segunda-feira, 19 de junho de 2017

Amigos que se vão

Amigos nunca nos deixam, ainda que partam para sempre. Permanecem eternamente em nossos corações pelos laços de união e companheirismo que criamos e cultivamos ao longo da vida. Assim foi com Luiz Onofre Salgado, que ontem partiu para sempre. E para nós, que moramos distante, a notícia tem um impacto muito grande, sobretudo quando ainda passados poucos dias havíamos recebido ligação daquele amigo, cumprimentando-nos, desejando saúde e respondendo que sua saúde estava bem. 

Em 1964 entrei na faculdade para cursar agronomia. Anos de chumbo, não só na politica, como também nos trotes aos calouros, alguns até violentos. Veteranos tinham exacerbada gana sobre os calouros. Banhos no lago do jardim na praça central, com roupa e tudo, a qualquer hora, trotes sem fim partindo de todos eles, os antigos alunos, chamados de veteranos. Mas, havia um em especial que se distinguia dentre todos pela finesse, simpatia e empatia ao tratar com pessoas. Natural de Nepomuceno foi logo me dizendo conhecer meu tio e sua família que lá moravam. Amizade logo no início e parecia que já nos conhecíamos havia tempo, tal o grau de empatia. Nunca me aplicou um trote, quando calouro de cabeça raspada e portando uma ferradura de cavalo dependurada no pescoço (para simbolizar a “burrice” do calouro, escravo dos veteranos...). Ao contrário, ele deplorava a grosseria, a violência dos trotes e não concordava com os demais que os praticavam com grande humilhação para os calouros. Nasceu daí a amizade que aumentou com os contatos mais frequentes, inclusive na sede social do Centro Acadêmico de Agronomia-CAA, para o qual fui escolhido como diretor social, com a responsabilidade de fazê-lo funcionar de terça a sábado, com horas dançantes, ao som de Ray Conniff, Billy Vaughn, Paul Muriat, Percy Faith, Bert Kaempfert, Elcio Alvares, Românticos de Cuba, Mantovani e tantos outros LPs de sucesso. Ali ele sempre comparecia com seus colegas de turma e aos sábados com sua namorada Ana Maria. Formavam um belo par, admirado por todos à época. Mais tarde casou-se com outra, divorciou-se depois de algum tempo e há uns dez anos casou-se novamente, com a esposa que o acompanhou e dele cuidou com dedicação até os instantes finais.

Luiz Onofre formou-se em agronomia no ano de 1964. Trabalhou inicialmente na Bayer, em São Paulo e em seguida foi convidado para integrar o quadro docente da Esal/Ufla, ali se aposentando para então iniciar atividades empresariais na área de testes de produtos fitossanitários. Frequentava Brasília constantemente, quer na qualidade de chefe de departamento da universidade, ou chefe de gabinete da diretoria da antiga Esal, aqui discutindo projetos junto ao MEC, na Secretaria de Educação superior, onde trabalhei por 35 anos, ou em outros ministérios como Agricultura, Indústria e Comercio e outros órgãos da administração federal. Recepcioná-lo na capital era um prazer, sobretudo quando convidado para almoço em família. Certa vez compareceu a uma recepção que oferecemos, em nossa casa, ao novo diretor, Prof. Juventino Júlio de Souza, então empossado pelo Ministro da Educação. Em qualquer ocasião sempre irradiava simpatia, alegria contagiante, como mostram algumas fotos de nosso arquivo. Apenas para ilustrar, há cerca de uns quarenta dias, ligou-me, depois de obter meu numero (disse-me que havia perdido a agenda no celular e então o recuperara com meu irmão, com quem se encontrou casualmente na rua), para cumprimentar-me pelo aniversário transcorrido havia uns vinte dias. Fiquei honrado com a especial deferência e disse-lhe duas coisas: aniversário comemora-se a qualquer hora e receber os cumprimentos e votos de saúde dos amigos também pode e deve ser o ano todo, de modo que nem precisava se escusar pela demora e que brevemente retornaria igual gentileza em seu aniversário.

Professor Luiz Onofre nos deixa muito entristecidos com a sua partida para sempre. Está sendo velado, nesta manhã, no Salão Nobre da Universidade, a mesma que ajudamos, ele, eu e tantos outros a construir física e institucionalmente. Muitas dessas realizações em conjunto ainda contarei, passadas aqui e na França, onde o levei certa vez para prospecção de acordos de cooperação técnica na área de fitossanidade. Para nós que não pudemos estar presente, juntarmo-nos aos colegas nesta hora de dor para o adeus final, é sim mais doloroso. Dia de luto na alma. Mas, como disse antes, permanecerá eternamente em nossos corações. Apenas mudou de endereço, cancelou o número de telefone celular que não atende mais, mesmo quando chamado nesses dois últimos dias de agonia no Hospital da Beneficência Portuguesa, onde fora se tratar. Por isso, não cumprirei a promessa que lhe fiz a uns dias atrás, de ligar-lhe na próxima semana, dia 26 de junho, no seu aniversário. Ligarei, sim, mas de outra forma, em oração aos céus agradecendo a Deus pelo amigo que lá está e que deixou-nos muita saudade. Estará, sim, para sempre, ao lado do Altíssimo que nos ampara. Em nossos corações também permanecerá par sempre, com aquele sorriso de alegria que mostra nas fotos! Descanse em paz, Amigo!

Brasília, 19 de junho de 2017


Paulo das Lavras




Dezembro de 1987, Luiz Onofre, alegre, sorridente, na recepção em minha casa, em homenagem ao novo Diretor da ESAL, empossado horas antes pelo Ministro da Educação.
Foto: José Alves de Andrade (Zé Planche), Cida esposa do Diretor Juventino e Luiz Onofre a meu lado.
Atrás, o Diretor Luiz Augusto de Paula Lima que acabara de repassar o cargo ao novo diretor.



Na mesma festa, Eros Gomide, Agostinho, - meus irmão, Anizio Pereira da Silva,
Silas Costa Pereira que viria a ser o próximo Diretor da Esal depois do mandato de Juventino,
e o inesquecível Luiz Onofre.



Festa de 50 anos de formatura na Esal, 2014. Luiz Onofre e seus colegas
Luiz Gomes Correia, Daniel Lima Barrios e Roberto Costa Carneiro, o famoso goleiro Peré
também falecido recentemente, em agosto de 2016.
Amigos que se foram. Saudades e muitas histórias que fazem parte de nossas vidas.
Foto: Maria Lúcia Cunha Carneiro

quinta-feira, 15 de junho de 2017

O ódio nas redes sociais e no dia a dia

Muito já se escreveu, discutiu e publicou sobre esse terrível sentimento, o ódio. Não queremos acrescentar e nem prolongar essas discussões, mas, somente destacar um dos conceitos mais acertados sobre o comportamento daqueles que cultuam essa arte associada ao quinto pecado capital, a ira e quase sempre ligada a outro, a inveja. É sabido que o pecado leva à morte e o ódio é o que mais contribui para isso. Ele se vira contra o próprio dono, devora sua alma, sua alegria, destila veneno por todos os poros do corpo, consumindo-o moral e fisicamente. A pessoa que carrega ódio em seu coração se torna feia, cara amarrada, carrancuda, olhar fulminante que deixa transparecer o ódio que emana de sua alma. O ódio mata a esperança, tira a paz, rouba amizade, o respeito, e o apreço. Alguém tem que ser culpado, menos eu, como dito por um filósofo: “o meu inferno é o outro...” Errado! Temos que ter empatia, colocarmo-nos no lugar do outro, abandonar esse comportamento e adotar o oposto, o sorriso que escancara a alma das pessoas de paz, tranquilas, resolvidas, de bem com a vida.

Mas, esse preambulo foi apenas para reforçar o conceito que um jornalista expressou, em defesa de outra jornalista, atacada, a bordo de um avião, pelo ódio de uma horda de fanáticos partidaristas, incentivados que foram por dirigente de partido, aquele mesmo que sempre dizia “nós contra eles”, elegendo a jornalista, vítima, como uma das grandes inimigas do partido. O jornalista disse: “Quem odeia faz tudo para ser ouvido, lido, visto. E não quer ouvir, ler nem ver o que vai contra o seu pensamento. Vê o diferente como uma ameaça, um inimigo, pura e simplesmente”.  Outra presidente de partido, prosseguiu ele, “ainda tentou justificar a agressão à jornalista, ocorrida dentro do avião e até um ministro do TSE, em outro caso, pediu a degola de repórter”.

Fim do mundo, ou apenas estamos diante de uma onda de ódio orquestrada por sequiosos pelo poder? Tomara que seja passageira essa onda, pois a julgar pelo comportamento da tripulação do avião, que nada fez par advertir os agressores, demonstra-se que há certa paralisia ou quiçá conivência, apoio velado. E nesse sentido podemos dizer que nas redes sociais esse ódio encontra campo fértil. Basta curtir ou compartilhar e já se está apoiando, difundindo a raiva alheia que também passa a ser sua.

            Melhor falar de amor, companheirismo, solidariedade, ou ainda rememorar as delicias da infância e da juventude. Falar ou difundir o ódio mostra mais de si próprio que do outro, do qual estamos a reproduzir as opiniões e atos. Esqueçamos isso e hoje é um dia especial para se pensar nisto, pois embora não possamos controlar o que os outros fazem, seja conosco ou mesmo com terceiros, podemos equilibrar a nossa reação e ainda colocar limites na situação em que estamos envolvidos.



Brasília, 15 de junho de 2017    (dia da Eucaristia, também chamada de Corpus Christi)

Paulo das Lavras


Sorriso aberto, alma escancarada, alegria no coração, vida longa...
 A vida é bem melhor assim, como essa mãe e filha que casualmente encontrei às
vésperas do dia de Corpus Christi. Integram uma Associação de Jovens, encarregada
 de confeccionar uma parte do tapete para a procissão. Espalhemos o Amor e não o ódio!