domingo, 29 de maio de 2016

A Arte de Ser Professor


Hoje é Dia mundial do Professor - Entrevista/ CONFEA                           ( 1.340 acessos em 16/10/2022)

Embora se comemore no Brasil o Dia do Professor em 15 de outubro, você sabia que mundialmente esse profissional é homenageado em 5 de outubro? No Confea existem alguns professores; entre eles, estão Danilo Sili Broges, da GPP, Paulo Roberto da Silva, da GRI, e Otaviano Eugênio Batista, da GCI.

 
Prof. Paulo Roberto da Silva

         Desde os 24 anos, Paulo Roberto dá aula em nível superior. Ao todo, são 41 anos de dedicação em salas de aula. Segundo ele, cada dia é um aprendizado novo. “Ser professor é um prazer renovado, pois lidar com jovens requer uma alta dose de compreensão e entusiasmo pelos sonhos que cada um tem”. Ser professor para Paulo Roberto é ter responsabilidade ética não só de ensinar as técnicas, mas, sobretudo, de procurar formar um cidadão e profissional competente e consciente da sua profissão. “Ser professor de curso superior nas áreas do Sistema Confea/Crea é um privilégio, sobretudo quando se ensina ética e legislação profissional”, afirmou. Segundo ele, a carreira de professor sempre foi muito respeitada por todas as pessoas e em todas as épocas. Ele acredita que isso acontece pelo elevado grau de amor e dedicação dos mestres aos seus alunos.


                    Na entrevista acima, concedida em 2010, no Dia Internacional do Professor, por ser de cunho mais formal não pude dizer que, na verdade, me tornei professor desde os 16 anos, quando ministrava aulas particulares, remuneradas, de matemática para candidatos a exames de admissão ao ginásio. É isto mesmo. Na década de 1950 e início de 60, havia a exigência de se prestar exames de qualificação para ser admitido no curso ginasial, que corresponde hoje ao período da 6ª a 9ª série do ensino fundamental. Mais tarde, já no curso científico, 2º grau atual, aceitei o pedido do professor de matemática, Nelson Werlang, recém-chegado do Sul, jovem, querido e admirado por quase todas as garotas da cidade, para substituí-lo e dar uma aula para o 2º ano do curso de normalista do Colégio N.S de Lourdes, frequentado só por meninas. Assim era também, na década de 60, quando ainda havia colégio para meninos e outro só para as meninas. Entrar no colégio delas..., nem pensar..., a gente tinha medo até de ser “mutilado” pela Irmã Superiora, tal era o rigor do controle. Entre os rapazes a aposta máxima era quem conseguiria adentrar aquela sagrada e impenetrável fortaleza...


            Lá fui eu, todo faceiro, com a melhor roupa, sorriso largo e matéria na ponta da língua que ele, o Prof Nelson, havia me repassado ali mesmo, na arquibancada do campinho de futebol, onde nos encontrávamos. Rabiscou uma reta e a equação numa meia folha de caderno. Ainda me lembro que a matéria de geometria que seria ministrada versava sobre as propriedades da linha reta. Nela se marcavam os extremos A e B e mais um ponto “C” em qualquer local de sua extensão. Assim, arma-se a equação: CB/AC = AC/AB. Daí resultava que considerando a reta de valor igual a 1, e o segmento AC=X, o outro segmento CB será igual a 1-X.  Substituindo-se as letras pelos valores, resulta que 1-X/X = X/1, donde a equação se resume à expressão algébrica x² + X -1 = 0. Nada como o repetez, repetez toujour, pois quase 50 anos depois, numa de minhas visitas a Lavras, eis que encontro o Prof. Nelson, entrando numa lanchonete e antes que me avistasse, gritei bem alto: Der Lehrer Werlang...”. Alemão, era seu segundo idioma preferido e no qual foi educado na infância. Sorridente veio até a mesa, tomamos um café e relembramos aquela aula em que lhe substituí, no longínquo ano de 1963. Mente brilhante, mesmo aos 80 anos, foi logo dizendo que aquela equação dos segmentos da reta tinha o nome de “Divisão Áurea de um Segmento de Reta” e ali mesmo, sobre o guardanapo, rabiscamos e resolvemos um problema hipotético por ele formulado, com aquela equação. Doce recordação e ótimo exercício mental.  


Dia seguinte ao pedido do mestre, dirigi-me ao Colégio e a primeira providência foi apresentar-me  à Madre Superiora (puxa que arrepio..., pois o folclore pinta essa figura como o terror do colégio e ali estava um rapaz, jovem, sabe-se lá com que intenções para cima daquelas garotas, pensava ela, certamente...). Dominando bem o assunto, o jovem estudante/professor demonstrava bastante autoconfiança. Em seguida, ainda um pouco apreensivo fui direto à sala de aula. À porta respirei fundo, cabeça erguida, autoconfiança em alta, adentrei com toda a pompa e circunstância que se exigia do professor naqueles idos de 1963. Mas eu disse autoconfiança em alta? Sim, mas... porém, todavia, entretanto, contudo não obstante e ainda assim....., surgiu um detalhezinho imprevisto pelo todo empertigado e neófito professorzinho substituto. Ali, naquela classe, estava ninguém menos que a própria namoradinha, paixão recém conquistada e de conhecimento de toda a classe (qual a mulher que resistiria a um segredo desses....?). O mundo veio abaixo, o rubor se espalhou pela face diante dos olhares e risos de surpresa de toda a turma de meninas (eram mais de 40 e só meninas) que sabiam e apoiavam o namoro da colega com aquele jovem e agora "importante" professor substituto que acabara de adentrar a classe.


            O jovem professor, atrapalhado no íntimo, não se fez de rogado. Cumprimentou a todas, sentou-se à mesa, num tablado elevado e iniciou a célebre chamada nominal de cada aluna, registrando no Diário de Classe as presenças e faltas. Risos contidos, feições traindo a emoção e certamente as coisas iriam se complicar quando fosse declinado o nome dela que, a essa altura, estava nas nuvens conforme confessara posteriormente. Mas, outra vez não se fez de rogado... pronunciou o nome, ironicamente e com ar de convencido, sorridente, disse: "essa eu conheço bem"... e... gargalhada geral. Foi uma catarse. Terminada a chamada e as brincadeiras que nos permitimos, o novo professor pôde então iniciar sua aula e cumprir o compromisso sem que houvesse qualquer perturbação no ambiente respeitoso que se instalou a seguir. Durante 50 minutos a aula transcorreu normalmente. Após a explanação sobre a teoria da “Divisão Áurea de um Segmento de Reta”, passaram-se aos exercícios para a fixação dos conteúdos.


            Esta foi a minha primeira aula formal e embora tensa no início, a considero como a melhor e mais divertida que ministrei ao longo desses quase 50 anos de magistério. Deve ser por isso que adquiri gosto pela carreira e, certamente, aquela primeira aula em uma classe formal muito contribuiu para isso. Além disso, no decorrer do 2º e 3º ano do curso científico, outro jovem professor, Roussaulière Mattos, lavrense, recém graduado pela PUC-RJ em Química e Física, convidou-me para ser monitor naquelas disciplinas. Aplicava provas mensais para outras turmas e ajudava na preparação de aulas práticas nos laboratórios do colégio, o que se traduziu em prestígio e respeito entre os colegas e maior desempenho nos estudos. Lembro-me que algumas experiências com motores elétricos eram descritas em compêndios em idioma inglês, o que dificultava ainda mais a produção de textos para acompanhamento dos alunos. Assim fui adquirindo gosto pela atividade de docência além de receber maior estímulo ao aprimoramento nos estudos. Toda essa experiência em sala de aula, iniciada ainda bem jovem, devo a esses dois eminentes educadores que incentivaram e confiaram-me a honrosa missão de seguir seus passos.


            Ao rememorar o dia do Mestre, volto o meu olhar para esse distante passado e, agora, no presente, ainda desfrutando do prazer da sala de aula, resta-me agradecer a Deus por tudo isso. Ter tido o privilégio de lidar com os alunos no ensino superior, ao longo de toda a minha vida profissional, foi uma benção, pois sempre mantive o espírito jovem, acreditando num brilhante futuro para todos eles.


Brasília, 05 de outubro de 2010/ novembro 2015

Paulo das Lavras 


 
                       Prof. Nelson Wilibaldo Werlang  –   Renomado professor de Matemática em                             
     Lavras-MG. Iniciou   a  carreira  em 1955  no  CNSA e  aposentou-se na UFLA                    
 (foto da década de 1960- Arquivos de Renato Libeck).                                
                                                  


 
Prof. Rousaulière Mattos, entregando diploma do 3º Científico a Paulo das Lavras, dezembro de 1963.
Roussaulière iniciou a carreira docente no CNSA, em 1962 e aposentou-se como professor da UFLA.
Coincidentemente, Nelson Werlang, Roussaulière e Paulo Roberto terminaram suas carreiras docentes na Ufla
Paulo inicou como docente universitário, na Ufla, em 1969, antes de seus dois queridos mestres do colégio. 


 
Na arte ser Professor..., tem lá suas recompensas... Ser homenageado pela Universidade Federal de Lavras,
como o fundador dos cursos de Pós-Graduação da Universidade... foi uma grande honra. Solenidade dos
40 anos de fundação da PG. Reitor Scolforo (à direita), Coordenadoras Patrícia e Laene (à esquerda) - Ufla, 11/2015.



Antigo dormitório das meninas do Colégio de Lourdes
Foto: arquivo de Renato Libeck



Pos scriptum: O querido  e respeitado Professor Nelson Werlang falecu em 18/11/2018. Cerca de um ano antes o visitei em sua casa em BH. Foi um momento de muita descontração e alegria, conforme mostra a foto abaixo:





sábado, 21 de maio de 2016

Capelinha das Fazendas do Açude, Limeira e do Meio - Ribeirão Vermelho- MG

  (crônica com 3.306visualizações em 12/12/2023 -  blogger)
A capelinha das Fazendas do Açude, Limeira e do Meio, localizada a poucos metros da rodovia Ribeirão Vermelho/ Rodovia Fernão Dias, nas coordenadas: 21° 8' 49.73" S 45° 4' 47.79" W está em ruínas. Eu não a conhecia. Quando menino eu apenas a contemplava de longe, a 10km de distância, do outro lado do rio Grande, no município de Lavras, lá do alto da fazenda Retiro (zona rural das Tres Barras). Por relatos de meus ancestrais ribeirenses, das famílias Pereira da Silva e Salles, soube que eles a frequentavam no passado, antes da década de 1960.

Visitei-a na semana passada. Fiquei encantado com a sua arquitetura. É a mais bonita de todas as que visitei e fotografei (Três Barras, Cervo, Farias, Fábrica Velha, Criminoso e Boa Vista, todas essas no município de Lavras). Entretanto, abateu-me um profundo pesar por vê-la totalmente abandonada, em ruínas. Uma pena.

Sou professor aposentado da Universidade Federal de Lavras e do MEC. Resido em Brasília e estou escrevendo um livro sobre a genealogia da Família Salles, de Lavras, cujo patriarca Domingos Pereira de Salles (pai de minha vó) foi o proprietário da Fazenda do Meio, às margens do Rio Grande, no município de Ribeirão Vermelho. Outros parentes tinham glebas nas fazendas do Açude e da Limeira, também em Ribeirão Vermelho e ainda no Barreiro, na divisa Ribeirão Vermelho/Perdões. Essas fazendas circundam a capelinha em questão. Um dos capítulos do livro será, justamente, sobre a religiosidade e as capelas rurais, em torno das quais se desenvolviam intensas atividades sociais, incluindo-se o uso de algumas delas para escolas, casamentos, batizados e até mesmo sepultamentos, como foi o caso da Capela da Fábrica Velha.

Assim, gostaria de contar com a colaboração dos amigos para levantar alguns dados e relatos sobre essa bonita capelinha das fotos, incluindo:
1- Data de inauguração
2- Nome atribuído à capelinha (seria S. Sebastião?). Alguém teria dito que o local se chamaria Luna. Na verdade, há uma meia-lua e uma estrela em alto relevo na fachada.
3- Quem a construiu?
4- Proprietário do local, atualmente
5- Histórias e casos sobre a capelinha (eventos, etc)
6- Há chances de se restaurá-la? Embora esteja em ruínas, a estradinha de acesso tinha sido patrolada no dia anterior à minha visita, incluindo todo o arredor da capelinha. Será que há planos para recuperação da mesma? Tomara! Assim espero

Ficarei muito grato sobre qualquer informação, incluindo indicações de livros, artigos de jornais ou sites que falem dessa bela igrejinha, ou nomes de pessoas e respectivos contatos (e-mail, telefones) com as quais eu possa falar e colher informações para o resgate de sua história.
Imagino que pela sua beleza arquitetônica, deve ter representado muito para as populações rurais do século passado e com certeza haverá, ainda hoje, alguém que a frequentou e dela falará com muito gosto e amor.
           Obrigado

Brasília, 20 de maio de 2016

Paulo das Lavras  -      

 paulosilvadf@gmail.com  




 
Belíssima fachada da capelinha das fazendas do Açude, Limeira e do Meio - Ribeirão Vermelho-MG.

Foto tomada em 14/05/2016
Embora esteja em ruínas, a estradinha de acesso tinha sido patrolada no dia anterior, incluindo todo o arredor da capelinha. Será que há planos de recuperação da mesma? Tomara!

  




 
 Uma pena! Assim está o interior da capelinha

Detalhe da fachada. Símbolos semelhantes aos da Bandeira Nacional da Turquia.
Teria sido construída, a capelinha, por algum imigrante sírio-libanês, no início do século XX, quando se deu grande fluxo desses imigrantes para o sul de Minas?


segunda-feira, 9 de maio de 2016

Luto... Brasília amanheceu triste

Luto... Brasília amanheceu triste. Seus canteiros de flores choram. Ozanan Coelho, o agrônomo que transformou, literalmente, a cidade num canteiro florido, partiu repentinamente. Foram 40 anos de trabalho, transformando a capital numa cidade-parque que encanta a todos os seus três milhões de habitantes e inúmeros visitantes. Sem igual no mundo inteiro! Deixou sua marca indelével em nossos corações, a beleza da cidade em flor, que tanto tenho cantado e exaltado em crônicas. Ozanan, pessoa simples e embora diretor-geral da Novacap, trabalhava com a porta aberta, como ele própria dizia. Entra quem quiser, recebo a todos igualmente e o máximo que pode levar é um não... , completava ele. Lembro-me dele desde o ano de 1980, quando solicitei-lhe, em seu gabinete e gentilmente concedeu um estágio para paisagista da UFLA. Também deixou lembranças como incentivador da criação de jardins em todas as casas, produzindo e fornecendo mudas  a preços acessíveis. Brasília é hoje exemplo de consciência ambiental, paisagística. Aqui, os jardins são os únicos patrimônios totalmente livres, sem nenhum cercamento ou policiamento e ainda assim plenamente respeitados. Nunca houve um único caso sequer de vandalismo contra as flores e jardins. Todos os admiram.


O poeta Rubem Alves aponta pelo menos uma razão para se gostar de jardins: “Um jardim é a face visível de Deus, é o seu rosto sorridente…”. E num jardim estou no paraíso, completa o autor. Plagiando a metáfora do poeta, podemos afirmar que, em Brasília, vivemos num paraíso, cercado de flores em seus milhares de canteiros e mais quatro milhões de árvores, a maioria floríferas exuberantes, além de outros tantos milhões de metros quadrados de gramados. As flores enfeitam a alma. Não é a toa que o altar das celebrações religiosas é enfeitado com flores, pois alegram mais ainda a alma e ajudam a nos aproximar de Deus. Da mesma forma enfeitamos a nossa casa, a mesa da festa, qualquer que seja. Até na morte enfeitamos a viagem para a última morada dos entes queridos, como que a alegrar-nos, sabendo que estamos retribuindo o amor que deles recebemos em vida.


Tenho certeza que o mestre jardineiro, Ozanan Coelho, terá hoje o seu féretro enfeitado em alameda florida, pois em vida ele pavimentou muito bem o seu caminho. Estarei lá para levar ao amigo e respeitado profissional, o último tributo de gratidão. Enfeitou toda a cidade, por longo tempo. Que Deus o receba com flores, da alma, pois as flores do campo nós lhe oferecemos hoje, nessa despedida para a morada final. Ainda que essas flores  que levaremos tenham sido plantadas e cultivadas por ele, no campo ou ainda inspirando, diariamente, nossa alma que aprecia e reverencia a beleza dos jardins. Por isso lhe retribuímos com gratidão. Pena que hoje, ao pegar uma flor para levar à sua despedida, nos invade um sentimento de profundo pesar, pelo passamento daquele que viveu entre elas. Como Ruben Alves, ele também será eternamente conhecido e reconhecido como o homem que enfeitou Brasília, amava as flores!

Brasília, 9 de maio de 2016

Paulo das Lavras


 

 


A Congea tomentosa, em grande e exuberante volume, em minha
chácara. Inspirada nos jardins do Centro de Convenções Ulisses
 Guimarães, da década de 1990