domingo, 26 de julho de 2015

Dia do Engenheiro Agrônomo

Neste 12 de Outubro celebra-se o Dia do Engenheiro Agrônomo. Esse dia foi escolhido por se tratar da data de regulamentação da profissão, conforme Decreto nº. 23.196, de 12 de Outubro de 1933. Essa regulamentação antecedeu a criação do sistema CONFEA/CREA, que só ocorreu dois meses depois, em 12 de dezembro daquele ano.


Sobre a importância desse profissional na sociedade. O ex-ministro Roberto Rodrigues disse:

 
Não há ovo de Páscoa sem plantador de cacau, não há      vestido de seda sem plantador de amoras, não há cabos e pneus de      borracha sem plantador de seringueira, não há papel sem plantador      de árvores, não há cerveja sem plantador de cevada, vinho sem      plantador de uva, não há calça jeans sem plantador de algodão, não      há sapato e bolsa sem o pecuarista, não há etanol sem cana, não há      pão sem trigo, óleo sem soja, manteiga sem leite, não há vida sem a agricultura...”.

 
E nesse contexto, o Engenheiro Agrônomo é o profissional que cria as tecnologias tornando a agricultura capaz de suprir alimentos para os sete bilhões de habitantes do planeta e demais produtos usados no cotidiano. Assim, nada mais justo do que lembramos, neste dia, daquele brasileiro premiado com a maior comenda mundial na área de alimentos: o Engenheiro Agrônomo Alysson Paulinelli, que recebeu o The World Food Prize- 2006.

 
O mundo atual deposita muita esperança na capacidade do Brasil de suprir as necessidades de alimentos para os seus sete bilhões de habitantes. Normam Borlaug, cientista ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1970, considerado o Pai da Revolução Verde, disse, depois que conheceu o cerrado brasileiro, que o país estava fazendo o contrário do mundo que apenas esgotava os solos, derrubando florestas e plantando cereais. Aqui, continuou o cientista, recuperavam-se os solos pobres do cerrado, fertilizando-os, tornando-os capazes de produzir economicamente graças à competência profissional dos brasileiros. Deve-se explorar o solo sem degradá-lo e para tanto foram desenvolvidos estudos científicos e tecnologias adequadas para as condições de clima, solo e biodiversidade nas diferentes regiões geográficas de nosso país. E Alysson Paulinelli foi o pioneiro nisso com o desbravamento dos cerrados. Desbravou o cerrado mineiro quando foi Secretário de Agricultura em Minas Gerais. Grandes projetos se instalaram nos cerrados, especialmente da região do triangulo mineiro, com expansão da cafeicultura, soja e outros grãos irrigados. Mais tarde, como Ministro da Agricultura, de 1975 a 1979, criou um grande programa nacional para apoio ao desenvolvimento da agricultura nos cerrados de todo o país, o Polocentro. E o resultado todos sabemos... recordes de produção e produtividade agrícola e grande competitividade nos mercados internacionais de grãos, frutas e carne.
 

Mas, o Engenheiro Agrônomo Alysson Paulinelli, ou Paolinelli, como é grafado hoje em função de recente mudança da grafia, fiel às origens de seus ancestrais italianos, foi apenas isso? Bem, esse grande feito, o desbravamento do cerrado, bastaria para torna-lo mundialmente conhecido e merecedor da maior honraria, o Premio Nobel da Agricultura, a Medalha de Ouro Normam Borlaug. De fato, em 2006 esse eminente profissional foi agraciado com aquela importante medalha de mérito, chamada de “The World Food Prize”. Interessante que além da conquista dos cerrados, consolidou a EMBRAPA e para lá levou, em 1975, um grande pesquisador, o Engº Edson Lobato que, aliás, também recebeu o mesmo prêmio que Paolinelli. Mas, este não parou por aí, pois antes, em Lavras, segundo os historiadores, foi o dinamizador da velha Escola Superior de Agricultura de Lavras – ESAL, hoje Universidade Federal de Lavras. Evitou o seu fechamento em 1963 e conseguiu, na qualidade de vice-diretor, que a mesma fosse federalizada em 23 de dezembro de 1963. Tive o privilégio de ter sido o primeiro dos vestibulandos de agronomia do primeiro vestibular federal, de janeiro de 1964. Depois tornou-se diretor, construiu o novo campus, inaugurado em 1970, onde se situa hoje a UFLA. Também por isso tem sido agraciado frequentemente pela UFLA e pela comunidade lavrense. Inúmeros são os seus galardões. Sou grato a esse profissional que tanto fez pelo país.

 
O Brasil orgulha-se de seus profissionais Engenheiros Agrônomos!

  

Brasília, 12 de outubro de 2014

  
Engº Agrº. Paulo Roberto da Silva
 
 

  
 Prêmio Nobel da Agricultura – 2006, recebido em Nova York

 

 
A produção de alimentos no Brasil teve um crescimento extraordinário, graças aos avanços tecnológicos proporcionados pelos profissionais da área, com destaque para atuação do Engenheiro Agrônomo.

 

 
 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Dia do Agricultor


           Em 28 de julho de 1960 o Ministério da Agricultura completava 100 anos. Para marcar o evento o então presidente Juscelino Kubitscheck instituiu aquela data como sendo o DIA DO AGRICULTOR. Uma homenagem ao herói que tudo produz, sem descanso, sem domingo, feriado nem nada. Sempre na lida do campo com suas plantações e animais

Emociona-me a alvura imaculada dos algodoais em colheita, o rubro-verde dos cafezais em cereja, o galeio mágico que o vento provoca nos canaviais verdejantes ou nos dourados trigais; encanta-me o cheiro adocicado das espigas dos milharais, ou os      laranjais carregados, as flores das fruteiras polinizadas pelas abelhas operárias; orgulha-me o progressista ronco das colhedeiras nos sojais e arrozais maduros; admiro os capinzais cultivados, alimentando rebanhos leiteiros e de sadia carne; minha alma se desvanece a cada vez que vejo uma semente germinando no milagre da preservação das espécies.

Amo a agricultura, profunda e reverentemente. E respeito, admiro e venero os milhões de homens e mulheres que, dia após dia, ano após ano, em comunhão sublime com      a natureza e com o Criador, plantam e colhem tudo o que garante a perenidade da existência.

           Não há ovo de Páscoa sem plantador de cacau, não há vestido de seda sem plantador de amoras, não há cabos e pneus de borracha sem plantador de seringueira, não há papel sem plantador de árvores, não há cerveja sem plantador de cevada, vinho sem      plantador de uva, não há calça jeans sem plantador de algodão, não há sapato e bolsa sem o pecuarista, não há etanol sem cana, não há pão sem trigo, óleo sem soja, manteiga sem leite, não há vida sem a agricultura e sem o agricultor.
                              (Roberto Rodrigues- 28/07/2012)
 
         Plagiando, em parte, o ex-ministro eu diria que escolhi a profissão de engenheiro agrônomo por amar a terra e aos seus amanhadores, meus próprios pais e também por reconhecer que o trabalho do agricultor é o parceiro constante do cidadão urbano: um não vive sem o outro. São gêmeos univitelinos, para não dizer siameses. O valor e o respeito a esses trabalhadores do campo já foram cantados em prosa e verso. Mas, destaco apenas duas frases de autores desconhecidos:
 
“O melhor adubo da terra é o suor daqueles que nela trabalham”.

"A Agricultura é a primeira das artes. A ela seguem-se a indústria, o comércio e os serviços".

 A primeira enaltece o esforço e a dedicação do agricultor que, sob chuva ou sol, está sempre no trabalho e agradecido a Deus. De fato a agricultura é a primeira das artes no processo de desenvolvimento econômico e social. Somente após a colheita seguem-se as demais artes, a indústria, o comércio e os serviços. Sua pujança de hoje desmentiu para sempre a malfadada teoria malthusiana que previa o fim do mundo por falta de alimentos. Assim, é desnecessário falar sobre o avanço da tecnologia no campo que, sem dúvida, impulsionou a produção e produtividade além de tornar o trabalho do homem mais ameno.

      O amor à terra deve começar pelo berço, pois devemos ser gratos ao solo que nos alimenta na vida e nos acolhe na morte. Assim também o respeito e a gratidão a quem nela trabalha, o Agricultor! Um privilegiado que diariamente sente o cheiro da terra, dos animais, vê a semente germinar e vive em plena harmonia com a mãe-natureza.

 
Brasília, julho de 2015

 Paulo das Lavras


O agricultor tem o privilégio de amainar a terra, nela
depositar a semente e vê-la germinar, crescer e produzir
       alimentos. Uma dádiva de Deus para a nossa
                       sobrevivência física

 
          O melhor adubo da terra é o suor daquele que nela trabalha... o Agricultor

 

...e depois vem a farta colheita de cereais...

 
                                                           ...de hortaliças, carne, leite...

 

... e frutas
 
 
Que tal um cafezinho especial, plantado, irrigado, colhido,
      secado, beneficiado, torrado e moído, na chácara, artesanalmente?
         Arte aprendida com o pai, cafeicultor do sul de Minas,
         e aprimorada  com a agronomia. Ainda que em Brasília,
         a bebida  é fina, suave, como os cafés da região sul mineira...
 
 
O amor à terra deve começar pelo berço, pois devemos ser
gratos ao solo que nos alimenta na vida e nos acolhe na morte.
O netinho colhe cenouras e já há um guloso, o cavalo, à espera
(ao fundo da foto)
 
 
 
O agricultor plantou e cuidou, o menino colheu e a netinha
alimenta o cavalo.

...e o agricultor alimenta não somente o corpo, mas também a
alma com a beleza das flores que ele cultiva
 
                                 O agricultor mais longevo que conheci – Sr Vico, meu pai,
aos 90 anos, voltando da “tarefa” diária. Viveu na lida do campo
 até os 101 anos. Amor à terra e às vaquinhas de leite. 


 Homenagem da FAB . O Sr. Clovis (Vico), meu pai, nem era Aviador, mas nasceu no mesmo dia da invenção do avião e  com a FAB, que o homenageou,    comemorou os 100 anos da invenção 
do avião juntamente com seu próprio centenário.
Clique na foto para ler o texto/homenagem da FAB ao agricultor

Foto: Cecomsaer – out 2006 





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 


 

 


 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Sonho de Ícaro - 2... Gammon

     Com os versos da canção “Sonho de Ícaro, interpretada pelo cantor Biafra (voar, voar, subir, subir, ir por onde for...), escrevi sobre o sonho do menino, o fascínio e vontade de voar que os aviões nele despertavam desde tenra idade. Enormes aviões com os roncos característicos de seus possantes motores passavam, diariamente, a duzentos metros de sua cabeça, na reta final de pouso no campo de aviação de Lavras. As alturas, ou melhor, a vista que se podia ter lá de cima fazia-o também imaginar escaladas na vistosa Serra da Bocaina, aquela belíssima escultura longilínea que emoldura a cidade e que se descortinava da varanda de sua casa. Assim, quando cresceu, o menino voou bastante e com a mesma fascinação dos tempos de criança. Sem contar os voos de lazer em pequenos ultraleves e helicópteros, foram quase 1.500 viagens aéreas, de maio de 1973 a dezembro de 2011, quando ocupava cargos executivos na administração pública federal. Foram expressivas as cifras de contatos diretos com pessoas ao longo desses quase 39 anos de trabalho, no país e no exterior. As viagens somaram 3.000 horas de voo e mais de 5.000 horas de espera em aeroportos. Os contatos se estenderam a nada menos que 2.500 aeromoças e cerca de 100.000 passageiros embarcados, além de  8.000 comissários de apoio em terra, 30.000 agentes diversos, como translados em terra, hotéis, restaurantes e os próprios destinatários dos objetivos das viagens de serviço.

Mas, por que tanta precisão nas cifras? Simples, aviação é meu hobby predileto. Inclui aeromodelos comandados a cabo ou controle remoto, voos em ultraleves e helicópteros nos mais diversos e bonitos lugares no país e no exterior como o deslumbrante cenário composto pelas baías do Rio Hudson, Newark e Manhattan. Voos em simuladores, até mesmo do Mirage III, do Centro de Treinamento da Base Aérea de Anápolis também eram apreciados. Portanto, não poderia deixar de interessar pelos aviões de carreira. Visitas e até pousos e decolagens nas cabines desses grandes aviões foram vários, ainda no tempo em que isto era permitido. Navegar pela rota e identificar rios, lagos, montanhas, jazidas minerais, florestas e cidades, ainda que pela janela do passageiro, era uma predileção sem igual.

Graças a esse “sonho de Ícaro”, inato no menino, foi possível localizar e apreciar inúmeros pontos geográficos ao redor do mundo. Não raras vezes pedia ao comandante para avisar-me, por meio das aeromoças, a passagem por alguma cidade ou acidente geográfico de interesse. Foi assim, entre tantos, com a Baía dos Porcos, no Caribe e a cordilheira dos Apalaches, entre o sudoeste da Virgínia e o Tennessee. Essa cordilheira sempre me despertou grande interesse após a leitura de um livro sobre a vida de Samuel Rhea Gammon, o fundador do Instituto Presbiteriano Gammon e da Universidade Federal de Lavras cuja célula mater foi a Escola Agrícola.

Ali naquela cordilheira dos Apalaches, nas montanhas Alleghenies, de cenário encantador, viveu até os 24 anos aquele emérito educador. Nasceu em Bristol, na Virgínia, em 30 de abril do histórico ano de 1865, quando a anestesia dos dentistas ainda era apenas um gole de aguardente de sidra ou outra bebida mais forte. Naquele ano, a pouco mais de 300 km a nordeste dali, travavam-se as mais violentas batalhas dos sulistas contra os nortistas, na chamada Guerra da Secessão. Passaram-se apenas nove dias de seu nascimento e após uma série de derrotas, os sulistas também chamados de confederados se renderam às tropas do norte, encerrando-se assim a guerra civil com a assinatura de rendição do General Lee, em Appomattox, a nordeste de Bristol e próximo à Richmond no mesmo estado da Virgínia.

Ainda menino e com apenas seis anos, Sam mudou-se com a família para as proximidades de Abingdon, em Montgomery, onde também morou, cem anos depois, o ativista e pastor, Martin Luther King. Em 1955, naquela cidade, Luther King liderou o movimento contra a discriminação de negros. Eles não podiam andar no mesmo ônibus que os brancos. Venceu a causa e foi sancionada uma lei nesse sentido. Mas, mesmo 15 anos depois, já no final dos anos 1970, quando trabalhei na Michigan State University, próximo à Detroit, berço da indústria automobilística e do sindicalismo, pude sentir que ainda havia certo medo da população de confrontos racistas. Hoje estão bastante minimizados, embora o presidente, negro, Barack Obama, tenha sido obrigado a intervir para pacificar algumas desastradas ações de uns poucos policiais contra negros. Mas, voltando aos Gammon, um pouco mais tarde se mudaram para Rural Retreat, no mesmo estado da Virgínia. Estudou no King College, de Bristol e no Seminário Teológico Union, naquele mesmo estado. Pouco depois chegou ao Brasil, aos 24 anos, no natal de 1889.

Na cordilheira dos Apalaches, onde morava, corre o rio Holston serpenteando as montanhas formando um dos mais belos cenários do mundo e que encantava o menino da roça, Samuel Gammon. Levantava bem cedo, às cinco horas, para ajudar a tirar o leite das vacas e levar frutas e outros produtos da fazenda para vender na cidade. Por causa disso e de minhas tradições rurais, sempre interessei em conhecer aquela região e foi muito bom avistá-la, ainda que do alto, informado que fui pela comissária de bordo, conforme pedido. Ao identificar e sobrevoar por algum tempo a extensa região, mergulhei em emocionante viagem pelos escaninhos da alma, relembrando o caráter e os grandes feitos do Reverendo Samuel Rhea Gammon. Emocionado com a ampla vista que se descortinava, pensei como foi grande o coração daquele jovem missionário que ali deixou a fazenda, os pais e toda a família.

Partiu sozinho, aos 24 anos, para uma missão num país desconhecido e do qual não conhecia sequer uma palavra do idioma. Era preciso ter muito amor para compartilhar. Em março de 1892 visitou Lavras pela primeira vez e poucos meses depois retornou à cidade e com seus colegas decidiu que ali seria o novo local para a transferência do Colégio Internacional da Missão Presbiteriana, que funcionava em Campinas, cidade tomada pela epidemia da febre amarela que vitimou muitos missionários. Dentre as tantas vantagens que Sam Gammon encontrou em Lavras e que pesaram para sua decisão de escolhe-la para nova sede da Escola Internacional, certamente a semelhança da belíssima Serra da Bocaina, que emoldura a cidade de Lavras, com o cenário deslumbrante das serras dos Apalaches, na sua cidade natal, na Virgínia, foi um elemento a mais naquela histórica decisão de transferência do Colégio. Em novembro do mesmo ano a Missão chegou definitivamente a Lavras, depois de cinco dias de viagem de trem. Não havia ainda o ramal ferroviário de Ribeirão Vermelho para Lavras e o trecho teve que ser vencido a cavalo, com travessia do Rio Grande por balsa. As bagagens chegaram de carro de boi pelos 9 km que separam as duas cidades. A escola foi aberta no dia1º de fevereiro de 1893, com nove alunos. Uma semana depois havia catorze. Hoje são milhares de alunos. Os sonhos do jovem rapaz Sam Gammon, gestados ao pé das montanhas Alleghenies, o belíssimo vale onde ele viveu, enfeitado com estonteante show de folhagens coloridas de escarlate, carmesin e amarelo, segundo disse Clara Gammon, sua esposa, foi, então trocado, imagino, com saudosa reminiscência, por outra bela vista, a Bocaina e os ipês amarelos, rosa, roxos e brancos da cidade de Lavras.               
         Há pessoas que são predestinadas a servir a humanidade e Samuel Gammon não se contentou em deixar apenas saudade na cidade que escolheu para morar e servir pelo resto de sua vida. Descortinando a vista do alto do edifício do hotel onde me hospedei em Reston, na Virgínia, podia ver a 20 km de distância, a leste, a sede do Pentágono, famoso órgão de defesa dos EUA e a oeste, mais distante ainda, as últimas elevações do espinhaço dos Apalaches, com as montanhas Alleghenies. E pensar que logo a 200 km a sudoeste, ou pouco mais, estavam os sítios da infância e juventude de Samuel Gammon..., Rural Retreat na Lee Highway, próxima à Interstate 81, Abingdon e Bristol mais ao sul e já próximo ao Tennessee. Contemplar aquelas distantes montanhas ao amanhecer foi como reviver a saga do menino Sam Gammon, que todas as manhãs acordava às cinco horas para ajudar o pai na lida da roça. Infância abençoada que moldou seu caráter, bem ali entre as belezas daquelas montanhas, para um dia sonhar com a criação de uma Escola Agrícola que pudesse desenvolver e proporcionar o progresso humano. E seu sonho se tornou realidade, mas bem longe, no Brasil, muito distante dali, a uns 9.000 km que consumiram trinta e três dias na primeira viagem no pequeno e frágil navio Advance.  E assim, de seu sonho nasceu a ESAL/UFLA, dezesseis anos depois de ser instalado o Colégio Evangélico em Lavras. Poderia haver emoção maior para alguém, ali in locco, exatamente no ano de 1989,quando se completava um século da chegada do reverendo Gammon ao Brasil, aquele idealista que sonhava com uma escola para a glória de Deus e o progresso humano? E ainda pensar que este protagonista foi um dos beneficiários de sua grande obra? Ora, se ali estava naquele momento, frequentando uma Conferencia Internacional de Programas de Desenvolvimento do Ensino Agrícola Superior, patrocinada pelo Departamento de Estado dos EUA e representando o Governo Brasileiro, tudo se devia à iniciativa de 100 anos antes de Sam Gammon. Afinal me graduei na Escola fundada por ele, a ESAL/UFLA e nela também me tornei docente, galgando em seguida postos na administração pública federal na área da educação agrícola superior.

 Assim, agradeci a Deus pelo seu imensurável legado à Lavras, especialmente a criação do Instituto Evangélico com vários cursos superiores e ainda a Escola Agrícola, fundada em 1908 e posteriormente transformada em universidade federal de elevada conceituação, sendo hoje das primeiras no ranking nacional, conforme avaliação do MEC. O Rev. Gammon fez “escola”, pois sua vida e obra inspiraram as novas gerações com exemplos de caráter, espírito empreendedor e pastor de almas honrado e aclamado pelas pessoas de seu tempo. Ele fez diferença por onde passou. Dedicou-se à Glória de Deus e ao Progresso Humano, tal qual está inscrito no pórtico do majestoso auditório Lane Morton, do belíssimo campus do Instituto Presbiteriano, com suas alamedas floridas, cujos jardins e árvores foram plantados por ele próprio.  Ali, na bela chácara do Instituto e ao lado da Fazenda Ceres, da então Escola Agrícola que ele próprio projetou e construiu, viveu o resto de sua vida. Se ele nasceu em um ano histórico, da guerra da Secessão, poucos dias antes da rendição do general Lee que comandava as tropas sulistas, o Reverendo Sam Gammon, faleceu aos 63 anos de idade, em 1928, também num dia histórico. Faleceu no carro especial da E.F. Central do Brasil, na cidade de Barra Mansa, quando seria transferido para o trem da Oeste de Minas. Voltava do Rio para Lavras, após delicada cirurgia. Não resistiu à viagem de volta para casa onde queria passar seus últimos dias de vida. Era o dia 04 de Julho, o Independence Day, a data nacional de seu país. Certamente, ali, naquele memorável dia, cercado por sua esposa, a Srª Clara Gammon, ao lado de alguns amigos e até mesmo do diretor da Central do Brasil, deve ter se lembrado de saudar sua pátria-mãe com as estrofes do hino nacional, tal qual o menino da Virgínia entoava, patrioticamente, com a mão sobre o peito, como ela mesma contou em seu livro:
 Oh, say, can you see, by the dawn's early light
       What so proudly we hailed at the twilight's last gleaming? …..

Oh, say, does that star-spangled banner yet wave
 Over the land of the free and the home of the brave?...”



Mas, o Reverendo Gammon deixou plantado em Lavras muito mais que escolas, prédios, árvores e flores... plantou a semente do saber, que alimenta a alma, o progresso humano. Influenciou a muitos e ainda hoje é inspiração como exemplo de dignidade, trabalho e amor ao próximo.

Não foi à toa, portanto, que a cidade de Lavras parou para chorar, naquele 04 de julho de 1928, quando ele partiu para a glória do Senhor. Muito tempo depois, também eu derramei lágrimas de emoção quando sobrevoei o estado da Virgínia e ali fiquei por uma semana, bem próximo à sua terra natal e nele pensei, na sua infância rural, a viagem definitiva para o Brasil e o seu grande legado à Lavras, onde nasci, estudei e fui docente na própria UFLA que ele, Gammon, fundou há mais de 100 anos.

Mas afinal..., “Sonho de Ícaro - Gammon”? Não..., ele sonhou muito mais alto, pois com sua magnífica obra influenciou milhares de almas, dedicando-se à Glória de Deus e ao Progresso Humano! Sonho de Ícaro foi apenas o do menino das Lavras, que se apaixonou por voos, aprendeu a navegar pelos ares e assim pode ver e conhecer a terra de Sam Gammon.


Sou grato a ele e assim também é toda a cidade de Lavras. Sua memória é e será reverenciada para sempre na Terra dos Ipês e das Escolas. Parabéns Lavras. Parabéns, Instituto Presbiteriano Gammon pelos seus 146 anos de profícuo trabalho em nossa terra.


Brasília, agosto de 2015

Paulo das Lavras


 


 Samuel Rhea Gammon – 1865 – 1928. Praça central do antigo Campus da ESAL/UFLA,
projetada por ele em 1908 e remodelada em 2012


Appalachians, nas montanhas Alleghenies – Belíssimo vale da região do sudoeste
da Virginia-EUA onde viveu Samuel Gammon, rodeado de montanhas enfeitadas
no outono com estonteante show de folhagens coloridas de escarlate, carmesim e
 amarelo, como descreveu Clara Gammon em “Assim brilha a luz”, livro de biografia
daquele emérito educador.


Pequena igreja presbiteriana da zona rural de Maple Grove, condado de Abingdon,
 onde  também residiu Sam Gammon. Ali professou sua fé aos 12 anos de idade. Como membro
 da Missão Presbiteriana do Sul dos EUA, chegou a Lavras, pela primeira vez, em março de 1892 e
 já em fevereiro de 1893 iniciavam-se as aulas naquela cidade mineira.




Gymnasio de Lavras (Foto dos arquivos de Renato Libeck). Belíssimo prédio, estilo virginiano,
 com colunas de 7 a 8 metros de altura na fachada principal, projetado e construído por Samuel Gammon,
marca indelével daquele que nasceu na Virgínia.  A Missão Presbiteriana do Sul dos EUA iniciou as aulas na
Escola de Lavras no dia 1º fevereiro de 1893. São mais de 100 anos de atividades ininterruptas com seu
lema “Dedicado à Gloria de Deus e ao Progresso Humano”.  A centenária Universidade Federal de Lavras foi
criada por ele, ainda como Escola Agrícola de Lavras, nos moldes dos Land Grant Colleges


Auditório Lane-Morton. Ainda menino de uns 16 anos fui à uma palestra para jovens,
 nesse auditório do Instituto Presbiteriano Gammon.  Aquela frase gravada sobre o pórtico:
 “Dedicado à Glória de Deus e ao Progresso Humano”, calou fundo em meu coração. Além de seu
conteúdo, admirei o valor daqueles missionários norte-americanos, começando pelo fundador,
 Sam Gammon e depois pelo Mr. Lawrence Gibson Calhoun (eu dizia “Lavrence” e não Lawrence...)
que ali estava presente e costumava desfilar pela cidade com seu lindo cadillac, rabo de peixe.
Nunca mais me esqueci daquela frase, a verdadeira missão do colégio.
 (Foto dos arquivos de Renato Libeck)



 Antigo portão de entrada. Foto de 1969 - Arquivos de Renato Libeck                                                 


A praça central do antigo campus da ESAL/UFLA. À direita, o prédio Álvaro Botelho
 inaugurado pelo Reverendo Gammon, em 1922. Em primeiro plano (sentado)está o 
 Prof. Alfredo Scheid Lopes. À esquerda da foto, de camisa preta, ao lado de duas professoras, 
aparece este autor, no dia da reinauguração da praça remodelada, em 07/09/2012.