segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O mistério do Pequeno Príncipe e o “brasileiro” Saint-Exupéry



Há 70 anos morria o famoso escritor e pensador Antoine de Saint-Esupéry. A Revista Seleções, deste mês de outubro, conta a fantástica história da descoberta do avião desaparecido com o piloto Saint Exupéry. Encantei-me com a história, até porque a versão corrente era que seu avião havia desaparecido próximo a Toulon, na França. Não era verdade. Por outro lado, sua clássica obra “O Pequeno Príncipe” marcou indelevelmente a juventude dos anos 1960. Era um clássico e, à época, encontrado em todas as casas de família. Mas eu nem o teria lido não fosse a insistência de uma amiga que me ofereceu o livro. O autor, Antoine de Saint- Exupéry eternizou frases como “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” e “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, repetidas à exaustão pelas jovens apaixonadas de então.

Saint-Exupéry viveu a infância em Lyon e tomou gosto pela aviação quando frequentava um campo de aviação nas proximidades. A aviação ainda engatinhava, pois havia apenas seis anos que se voara pela primeira vez com o mais pesado que o ar. O menino de apenas 12 anos adorava as máquinas voadoras barulhentas. Tornou-se piloto militar aos 22 anos. Pouco depois foi trabalhar na iniciativa privada de serviço de correio aéreo internacional. Retornou à aviação militar e participou de missões durante a Segunda Guerra Mundial. Morreu em 31 de julho de 1944 quando seu avião de caça mergulhou nas águas do mar Mediterrâneo, próximo à ilha de Riou, na região de Marselha. A história do resgate da aeronave, quase sessenta anos depois, pode ser lida integralmente no link indicado ao final. O artigo termina com a sua enigmática frase: ‘‘Tu sofrerás. Eu parecerei morto e isso não será verdade…’’. Mas, o enigma foi desvendado com a identificação dos destroços de seu avião relâmpago, P-38 F-5B- Lightning, pescado incidentalmente. A Aeronave bélica mergulhou no mar Mediterrâneo, quando saíra em missão para recolher informação sobre os movimentos de tropas alemãs em torno do Vale do Ródano, antes da invasão aliada do sul da França (Operação Dragão).
Parte dos destroços do P-38 F-5B- Lightning, de número de série 234, estão expostos no Museu do Ar e do Espaço de Bourget, num espaço dedicado ao escritor-piloto. Em minha última viagem à França, visitei apenas o Museu do Desembarque na Normandia (Dia D) e o Cemitério Americano, onde estão sepultados quase dez mil combatentes da Segunda Grande Guerra. O Museu de Le Bourget ficará para outra oportunidade. Foi dali que, coincidentemente, outro Saint, o Santos-Dumont fez o primeiro voo em um avião, o 14-BIS. 

            Brasileiro, Saint-Exupéry? Não, mas sua biografia tem parte por aqui. Voou bastante na América do Sul como piloto do Correio Aéreo da empresa francesa Latécoère. Era o responsável pela rota Rio-Buenos Aires e o primeiro voo foi em 16 de maio de 1930. Uma das inúmeras escalas desses voos, para abastecimento dos aviões, era em Florianópolis. Naqueles anos 1930, no aeródromo da praia do Campeche ele era bastante conhecido. Fez amizade com o pescador Deca e este, sem conseguir pronunciar o nome do francês, passou a chamá-lo de "Zeperri". O aeródromo do Campeche ainda existe e os moradores procuram preservar a memória histórica do local. Há publicações que relatam que as chegadas desses aviões do correio eram festejadas pelos moradores. Bastava escutar o ronco do avião e, quando já anoitecia, corriam para colocar latas de querosene com tochas acesas para iluminar a pista.

            Saint-Exupéry... sua memória está gravada não somente em Florianópolis ou no Rio de Janeiro, mas também na mente de muitos brasileiros que se deliciaram com as leituras de suas obras, especialmente “O Pequeno Príncipe”.

Brasília, 27 de outubro de 2014

Paulo das Lavras

Nota:
- Link do artigo “O último voo do Pequeno Príncipe”:
      http://doutorsmith.blogspot.com.br/2005/09/o-ultimo-vo-do-pequeno-prncipe.html 


Courrier Latécoère  


A história do pescador que o chamava de Zeperry...



"Pénétrer un pays, c'est subir lentement la transformation qu'il impose, des façons de sentir et penser, et naître ainsi une seconde fois".
Saint-Exupéry inaugure le 16 mai 1930 une deuxième ligne hébdomadaire Buenos-Aires-Rio. Il était responsable de ce tronçon, des escales: Montevidéu, Pelotas, Porto Alegre, Florianópolis, Santos e Rio, où il se posa plusieurs fois. De ce jour il nous reste la photo ci-dessous, à Rio.

fonte: Un pilote austral, Bernard Bacquié, 2013, page 127


O Pequeno Príncipe e o piloto no deserto 


O piloto Saint-Exupéry  e seu avião  




Conheço a solidão. Três anos de deserto me ensinaram muito bem o gosto.
 O nosso “deserto” já nasce em nós. É quando dizemos “nós-mesmos” 


Com um avião igual a este. P-38 F-5B- Lightning, mergulhou no mar  


Sua pulseira de identificação, pescada incidentalmente no Mar Mediterrâneo.