sábado, 8 de março de 2014

Mulher – Ano 2014

 
Somos aquilo que elas, as MULHERES nos fizeram
 
 
Penso que não deveria haver o Dia da Mulher. Por quê? O artigo 5º da Constituição Federal não é bastante? É vedada toda a forma de discriminação e o citado artigo é bem claro em um de seus incisos: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Ponto final, não há o que se discutir! Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim... isso não tem funcionado no Brasil e no mundo. Sempre houve e há constantes violações dos direitos da mulher. No Brasil se tem notícia desde os tempos do Pe. Antônio Vieira que, em seus textos dos anos 1600, escreveu: “A mulher só deve sair de casa três vezes: no batismo, no casamento e no próprio enterro”.  O livro das Ordenações e Leis do Reino de Portugal, de 1603, descreve o rigor e a severidade no trato legal que as mulheres sofriam no século XVII. Verdadeiro horror, inimaginável o que se praticava contra a mulher naquela época. Isto e muito mais atrocidades estavam expostos na Exposição Brasil Feminino, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, a qual tive chance de visitar. Fiquei abismado, chocado ao ver a discriminação que se praticava contra a mulher. Nas telas de Debret viam-se as mulheres retratadas como escravas, mercadorias à venda ou aluguel para cama, mesa, banho e cozinha. Tristes cenas. Por essas e outras  mais graves razões, em 1977 a ONU instituiu o oito de março como Dia Internacional da Mulher, embora tenha sido celebrado nos EUA em 28 de fevereiro, desde o ano de 1909. Naquela época já se protestava contra as péssimas condições de trabalho das mulheres na indústria têxtil. As comemorações ficaram meio esquecidas depois de 1920, mas o movimento feminista ressurgiu com os protestos de mulheres na década de 1960 e depois culminou com a aprovação de seu dia comemorativo, pela ONU.

            Sou contra haver um Dia da Mulher por entender que deveríamos celebra-lo TODOS os dias do ano. Mas é preciso, sim, destacar um dia para se refletir sobre os valores da mulher. Entendo que valorizá-la não é apenas elogiá-la e destacar algumas posições privilegiadas na sociedade, mas, também denunciar as discriminações, violência e injustiças que contra elas se praticam constantemente. Mesmo depois de 40 anos da instituição do oito de março, como dia festivo, ainda se praticam muitos crimes contra ela. Não que queiramos relegar ao segundo plano suas conquistas e fatos de serem 51% da população, 45% da força de trabalho na administração pública em Brasília, detendo 40% dos cargos de chefias e assessoramento superior na alta gestão pública nacional (mulheres são melhores gestoras dos recursos públicos e quase zero de envolvimento em corrupção, pois sempre pensam nos mais necessitados e na família que é um dos mais fortes sentimentos femininos). Até mesmo no Exército já representam 3,5% da Força. Para meu orgulho tenho uma filha que foi da primeira turma de concursados de Oficiais do Exército, no final da década de 1990. Além disso, as mulheres são 52% dos estudantes universitárias e representam 12% da população contra 10% de homens matriculados no ensino superior.

Mas, se por um lado deixamos para trás a proibição de sair às ruas ou mesmo chegar à janela (presenciei isso, quando garoto, na década de 1950), votar, frequentar a escola (era privilégio dos homens), disputar cargo público ou trabalhar fora de casa, o que era um absurdo para os machistas que entendiam que as mulheres estavam destinadas à cama, mesa, banho, cozinha, cuidar dos filhos e do marido, ainda temos hoje uma lastimável situação de violência contra as mulheres. A cada cinco minutos uma mulher é agredida e em 70% dos casos o agressor é o marido, namorado ou companheiro. Será que eles pensam que elas são “propriedades” deles? Escravas para cama e mesa, banho, roupa lavada e demais tarefas domésticas? O IPEA divulgou estudos mostrando que 40% das 5.000 (cinco mil) mortes violentas de mulheres, por ano, foram praticadas pelos próprios companheiros, seja o marido, namorado ou outra relação afetiva. Mas, por outro lado os divórcios duplicaram em dez anos, passando de 1,7% para 3,1%. Esse aumento considerável deve, com certeza, refletir a reação da mulher que a cada dia está mais consciente de seus direitos e não mais se submete ao jugo escravizante daquele, o machista, que ao ser contestado ou recusado agride e até mata. Cadeia nele com a lei Maria da Penha e todos os gravames possíveis, pois quem conspira contra a matriz da vida – a mulher, não merece viver em sociedade! Precisam saber que os verdadeiros homens as respeitam e não precisam de força ou arma para se impor. Impor-se, hoje em dia, significa respeitá-las, interagir e crescerem juntos. A dignidade é maior, para ambos, quando se seguem esses princípios.

A meu ver, a reação feminina demonstrada pelas estatísticas de divórcios e processos judiciais contra agressões deve-se não somente à conscientização delas, mas também pelo fato de que elas vêm se firmando no mercado de trabalho quase em igualdade com o homem. E isso pode ser facilmente comprovado quando vemos que elas já assumiram 37% dos lares brasileiros como provedoras, chefes de família. Ainda sobre o mercado de trabalho é importante ressaltar que a mulher é discriminada  com salários mais baixos que os homens na mesma função. Inacreditável até aonde pode chegar a mentalidade machista e discriminatória contra as mulheres, pois na Bahia, num recente concurso público para a Polícia Civil, houve a exigência bizarra, descabida que as mulheres deveriam apresentar “atestado de comprovação de virgindade”. Nem é preciso dizer que virou piada nacional e os machistas tiveram que retirar essa cláusula do edital de concurso, mediante representação da OAB-BA que os enquadrou no citado artigo 5º, combinado com o inciso III do artigo 1º da Constituição Federal. Pode isso em pleno século XXI? Digamos que seja apenas bizarrice, ignorância e machismos prontamente corrigidos ao primeiro protesto. Risível se não fosse triste.

Fiquemos, portanto atentos na defesa dos direitos das mulheres, pois a violência contra elas é um capítulo a parte e de onde menos se espera aparecem os criminosos que despejam sobre elas seus recalques não resolvidos. Sonho com o dia em que os homens passem a compreender que o amor à mulher é completo, ou assim deveria ser para todos nós. Mulher é para ser amada, admirada pelos seus dotes morais e grandeza interior, não importa a condição. E ainda podemos afirmar, com segurança e orgulho, que elas são verdadeiras GUERREIRAS. Amam como ninguém a família, a ela se dedicando de corpo e alma. Muitas cumprem três jornadas diariamente, duas na empresa e outra em casa. Para essas tenho uma sugestão: que se aprove lei concedendo-lhe o direito de trabalhar um único turno, corrido, de seis horas nas empresas. Restariam algumas horas a mais para a família. Nada mais justo e lucrativo para a sociedade, pois filhos requerem atenção redobrada nos dias de hoje.  São corajosas, lutam contra tudo e todos a começar pela injusta discriminação. Choram, sorriem, se aprontam a todo instante, se perfumam, dão vida, alegria e estimulam os homens à tudo (estes, às vezes confessam que trabalham muito para ter bens e conquistar as mulheres...rsrs). São cheias de mistérios e encantos. São únicas e especiais. Vencedoras! Mais que os homens. Pobre daquele que não tem (ou teve) o amor da mulher mãe, irmã, esposa, companheiras, filhas, netas ou simples amigas. São elas que nos movem e hoje, mais ainda, inseridas no mercado de trabalho, já em escala considerável, temos mais essa categoria de mulheres, as colegas de trabalho. Têm a delicadeza das flores e só elas sabem humanizar esse ambiente onde passamos a maior parte do tempo de nossas vidas. Mulher é tudo na vida. Aprendi a amar todas, cada uma a seu modo próprio e pelo que representam para nós mesmos e para a sociedade como um todo, a mulher-mãe, esposa, irmã, amiga. Nós somos aquilo que elas, as mulheres, nos fizeram, do nascimento à paternidade. Simples assim! Uma benção dos céus! Assim pensa o menino de feliz infância passada nas Terras de Sant´Anna das Lavras do Funil e que, literalmente, sempre viveu cercado por elas. Graças a Deus. Que elas sejam felizes, não só no dia oito de março, mas, sempre e como sempre mereceram!

 
Brasília, 08 de março de 2014

 
Paulo das Lavras
 
     As fotos que ilustram esta crônica são pinturas, magníficas, do fazendeiro Robert Duncan, de Utah/USA
 



quinta-feira, 6 de março de 2014

A culpa é do aluno

É cada uma... #trágico!
Recebi, em uma rede social, a mensagem acima. Em seu cabeçalho, ao lado da nota que o aluno recebeu, constava apenas a observação:  “É cada uma... # trágico!”, em clara referencia aos conhecimentos ali contidos. Contestei de imediato nos seguintes termos:
À primeira vista parece mesmo trágico e engraçado. Talvez, por isso, os comentários nessa linha são até pertinentes. Porém à vista de especialistas em avaliação acadêmica a questão tem dois lados. Em minha opinião não se pode penalizar exclusivamente o aluno. Ele é o elo mais fraco, a primeira e maior vitima do sistema. E nesse sistema o primeiro responsável é o professor.
            Verifiquei vários comentários sobre esse caso e encontrei um que combina com o meu ponto de vista. Diz o seguinte:
“Na boa, a qualidade da resposta está intrinsecamente ligada à má qualidade da pergunta. Nós não percebemos porque nos acostumamos com este tipo de avaliação. #trágico!”.
            A maioria de nossos professores só pensa no exame vestibular e querem “treinar” seus alunos para as tais pegadinhas. Ora, exame vestibular é para isso mesmo. Não é à toa que o MEC os chama de Processo Seletivo. E selecionar implica mais em “eliminar” do que escolher os melhores. É bem assim... como mil candidatos para 50 vagas. Portanto, está corretissima a análise do Prof Bruno, sobretudo quando diz que estamos tão acostumados com esse tipo de avaliação e, por isso, nem percebemos. Esquecemo-nos que a missão do professor é “formar” o aluno, ensinar-lhe a ser crítico e saber ler, interpretar e comentar/analisar qualquer evento. Para tanto é necessário balizar, orientar... E onde está o reflexo dessa postura pedagógica na péssima formulação da questão?
 Se eu fosse o pai desse aluno entraria com recurso na comissão didático-pedagógica da escola. Exigiria reavaliação em face da pergunta ter sido vaga, a ponto de ensejar novas indagações, como:
É para se focar períodos abrangidos pela guerra, início/causas, meio/ batalhas/logistica e fim/resultados? (a guerra durou cinco anos); o papel dos aliados; a Itália no conflito; o Dia D e o desembarque na Normandia; os reids aéreos; o holocausto; a morte de Hitler, etc, etc, ou ainda, puxando para o lado brasileiro... Porque o Brasil entrou na guerra? a ação da FEB na Itália; A Usina Siderurgica de Volta Redonda; as bases aéreas americanas em Natal; Getúlio e Olga Benário... etc, etc. Ou ainda, sob um aspecto mais global e histórico, quais os impactos da guerra na vida dos cidadãos? Ou ainda falar exclusivamenbte sobre os avanços da ciência e da tecnologia decorrentes das grandes necessidades de suprimentos bélicos, de alimentos, saúde, comunicações (até inventaram o radar e os foguetes e depois os aviões a jato!).
            Do ponto de vista do garoto ele escolheu relatar, em até 10 linhas, a imaginação de uma batalha, muito provavelmente influenciado pelos filminhos de tv, a grande babá eletrônica de nossos dias. Ele acertou e se o conteudo não está bom, o roteiro é 10. O recorte postado de sua redação não mostra o final, mas provavelmente alguns soldados morreram na evacuação que o hipotético comandante ordenara.... Por sua vez, o professor, ao limitar a redação em 10 linhas, demonstra não querer muito trabalho para ler. Depois ainda ironiza o aluno “parabenizando” a criatividade e lhe tasca um zero, vírgula, zero! Então, tá... o aluno é obrigado a adivinhar o que o professor queria que fosse escrito. Até me faz lembrar de um folclórico professor da antiga ESAL que fez a seguinte pergunta em prova: “O que foi dito na porteira da fazenda do Totonho Cambraia, naquele dia da aula prática?” (só um aluno, daqueles que anotam tudo, respondeu).
Nesse caso particular estou com a opinião de outro professor que avaliaria o aluno em tela com nota  5 (cinco), pelo menos e anotação em sua ficha de avaliação sobre a qualidade de sua imaginação. Quem sabe no futuro viria a ser um cineasta? (Havia orientador pedagógico para esse tipo de avaliação/intervenção?). De fato é mesmo uma situação “ # trágica”. Porém para o lado dos professores, pois os alunos são as vítimas indefesas dessa falta de didática e avaliação do desempenho educacional.
 
Brasília, 05 de novembro de 2012
 
Paulo das Lavras