sábado, 27 de julho de 2013

Mobilidade rural-urbano em Lavras: 300 anos de história


                O IBGE publicou em 28/06/2013 um artigo muito interessante sob o título: “Atlas do Censo Demográfico do IBGE mapeia mudanças na sociedade brasileira” . Nele há  uma análise acurada sobre a mobilidade da população brasileira. A parte inicial do Atlas focaliza a geopolítica contemporânea e evidencia que até mesmo a projeção econômica do Brasil no processo de globalização atual tem como fundamento sua extensa base populacional e territorial: 190.755. 799 habitantes, em 2010 e uma superfície de 8.515.767,049 km². Ainda segundo informa o artigo, de acordo com a ONU, o Brasil ocupa a quinta posição no Planeta em termos de extensão territorial e de número de habitantes.

 Essa matéria pode ser vista no link:


 Há indicações de outros links do Atlas propriamente dito, com tabelas e quadros estatísticos: http://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/.  Nessa última página há outro link para os dados completos do Censo de 2010: http://censo2010.ibge.gov.br/resultados

É desse endereço a página abaixo (Sinópse), e de onde se extraem algumas conclusões. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse/default_sinopse.shtm

A cidade de Lavras tinha 92.200 habitantes em 31/12/2010. Cerca de 95% da população residia na cidade. Apenas 5% na zona rural (4.344 pessoas). A densidade populacional era de 163 habitantes/Km². A vizinha cidade de Nepomuceno tinha 25.733 habitantes, sendo 74% na cidade e 26% rural e baixíssima densidade de 44 hab/km². São João del Rei, outra vizinha, tinha 84.469 habitantes, sendo 90% na cidade e baixa densidade de 57 hab/km².

Um pouco mais distante, porém com mesmo perfil universitário, a cidade de Viçosa tinha 72.220 habitantes, com 93% na cidade e 241hab/km². Voltando às cidades vizinhas, Varginha ultrapassa Lavras em número de habitantes. Eram 123.081, com 96% na cidade e densidade acima de 311 hab/km², pois seu município tem extensão territorial menor (395 km²) do que o de Lavras (564 km²).

Como é Lavras, hoje, em sua distribuição populacional?

 À exceção de Varginha que praticamente empata (1% acima apenas) com Lavras, nossa cidade tem o mais elevado índice de população urbana, 95%, em relação à vizinhas Nepomuceno com 74 % e São João Del Rei com 90%.

Interessante comparar a evolução e as mudanças no perfil da população de Lavras. Em 1720, há quase 300 anos, havia menos de 1.000 habitantes no povoado de Sant´Anna das Lavras do Funil, fundado por Francisco Bueno da Fonseca, revoltado que estava com os atos da Coroa portuguesa e que aqui aportou depois de 1712, procedente de São Paulo, em busca de ouro. Nessa época o povoado era simplesmente uma extensa zona rural com diversas lavras de ouro e nada tinha de serviços considerados urbanos. Cada um produzia os alimentos para sua própria subsistência. Comércio só do ouro, ainda assim muito reservadamente por medo dos confiscos.

 Por volta de 1940, mais de duzentos anos depois de sua fundação, a população beirava os 30.000 habitantes e somente 25% morava na cidade. A grande maioria, 75%, ainda residia e trabalhava na zona rural, na produção de alimentos, especialmente leite e laticínios, café, milho e feijão. Em 1960 a população contava com cerca de 40.000 habitantes sendo que pouco menos da metade ainda residia na zona rural (40 a 45%). Houve, portanto, já em 1960,  expressivo aumento na taxa de urbanização da população.  A partir daí, talvez pelo receio que o novo Estatuto da Terra tenha causado e também pela consciência sobre a necessidade de escolarização, o crescimento da população urbana passou a ser bastante acelerado.

 Em 1970 havia aproximadamente 53.000 habitantes com cerca de 65 a 70% residindo na cidade. Em 1990 eram 65.000 habitantes e com expressiva taxa de 75% residentes na cidade. No ano de 2000 a população estava ao redor de 78.000 habitantes e já contava com 82% vivendo na cidade. Em 2010 essa taxa urbana pulou para 95% dos 92.000 habitantes. O crescimento urbano acelerado nem sempre foi acompanhado de politicas de urbanização adequadas às demandas, a começar pelo transporte publico e elevada densidade de veículos particulares que causam constantes engarrafamentos nas principais ruas. As ruas de modo geral, são estreitas com calçadas de pedestres com pouco mais de 1,60 metros de largura, não permitindo qualquer intervenção urbanística.

            Não foram encontrados os registros históricos, dados atualizados e estatísticas mais acuradas para as informações aqui apresentadas. Seria de bom alvitre que tais dados fossem coligidos junto às autoridades municipais, como também a publicação de estudos mais acurados e análises sobre as causas e impactos do aumento populacional e da migração acelerada do meio rural para o urbano. Certamente deve haver um planejamento urbano onde se caracterizariam as principais demandas e ações mitigantes no tocante ao inchaço da população urbana e o esvaziamento rural.

 Brasília, 29 de junho de 2013

 Paulo das Lavras

 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Troco aos Cariocas


Há pouco tempo o Menino das Lavras aprontou uma boa peça com um grupo de cariocas que partia para uma temporada de pesca no Araguaia. Somente agora, decorrido algum tempo, houve inspiração suficiente para narrar esse verídico e engraçado caso. Uma mensagem eletrônica narrando certo “fato” que não pareceu verdadeiro, tendendo para o gênero de piada com senso de racismo foi o mote para esta crônica. Para quem trabalhava por mais de 30 anos com a educação em nível nacional foi fácil identificar a origem de tal disparate, veja:

“Para os amigos professores e aqueles que, romanticamente, ainda se  preocupam com os jovens  que constituirão a sociedade no futuro vejam o real  retrato da EDUCAÇÃO / ENSINO  neste nosso país!!!!!

Prova de Geografia - Colégio Objetivo - SP, terceiro ano:                                                                                            
Questão: Faça uma análise sobre a importância do Vale do Paraíba   
Resposta de um aluno:                                                                                                                        

'O Vale do Paraíba é de suma importância, pois, não podemos discriminar esses importantes cidadãos. Já que existem o Vale-Transporte e o Vale do Idoso, por que não existir também o Vale do Paraíba? Além disso, sabemos que os Paraíbas, de um modo geral, trabalham em obras ou portarias de edifícios e ganham pouco. Então, o dinheiro que entra no meio do mês (que é o Vale), é muito importante para ele equilibrar sua economia familiar.  '                                                                       

            É evidente que o caso acima, que circulou intensamente pelas redes sociais, não passa de uma piada de carioca. Somente eles chamam qualquer nordestino de "paraíba". Houve até um "imbróglio" em que um famoso jogador de futebol se meteu quando imputou a derrota de seu time à conta de suposto roubo na arbitragem. Disse o seguinte: "Você quer o que? O jogo foi no nordeste e o juiz, era um paraíba”. Na verdade o juiz era da Bahia, mas, para o carioca qualquer cidadão nascido de Minas para cima é "paraiba"... Houve grande repercussão na imprensa sobre essa declaração de cunho preconceituoso.

           
           Da mesma forma o paulista chama os nordestinos de baiano ou cearense, não importando qual seja o estado de origem. Os cariocas e paulistas fazem piadas com todos, pois para lá, os estados “maravilha”, se dirigem muitos migrantes do nordeste e das Minas Gerais. Dos cariocas não se pode dizer que isso seja um caso único. O Menino convive, por força de ofício, quase que diariamente com a alegre e festeira gente da cidade maravilhosa que têm predileção especial para gozar os mineiros... Frequentemente foi vítima deles. Mas, o troco foi fenomenal, embora tenha esperado bastante.

Um grupo de pescadores cariocas estava na sala de embarque do aeroporto do Galeão e o tempo de espera já ultrapassava a duas horas de atraso. Viajaríamos no mesmo vôo para Brasília e de lá, iriam de ônibus para o rio Araguaia. Por pouco eles teriam abortado a viagem de pescaria, pois o Menino se fez passar por fiscal do IBAMA ameaçando-lhes confiscar as tralhas de pescaria.

 Foi fácil intrometer-se no meio da turma. Estavam todos com camiseta alusiva à pescaria e esporte na área de aviação. Ora, apaixonado por aviões, o Menino logo entabulou conversa com um deles sobre ultraleves, planadores e voos de helicóptero. Ninguém se recusa a conversar com um distinto senhor, de terno e gravata, cabelos grisalhos, sério, muito sério, repassando confiança e credibilidade. Ninguém duvidaria mesmo que houvesse qualquer suposta má intenção por parte de um personagem assim. Campo perfeito para o ataque. Logo o motivo do grupo foi revelado, uma pescaria no Araguaia, com escala em Brasília. Dali seguiriam de ônibus recheado de acompanhantes.... Hummm essa história é velha e vai render! Daí surgiu, num estalo, o plano de vingança, entalado há séculos. O “novo amigo” gostou do brilhante plano, sem contudo imaginar que “seria vingança” e combinamos pregar uma peça em todos seus colegas. Ele apontou e indicou o nome do chefe do grupo e se afastou estrategicamente. O Menino chamou então o líder da turma e disse: “Fiscal do IBAMA”. Por favor, desculpe pela abordagem na sala de embarque, pois me atrasei no trânsito por causa de uma blitz na Linha Vermelha. Lamento, no entanto, comunicar-lhes que não poderão mais embarcar. Houve acidente ambiental na região do rio Araguaia e já determinei à companhia aérea a retirada das bagagens de pesca de todos vocês”. Foi um caso, um caos, perplexidade geral, uns lamentando a perda da passagem aérea comprada há um ano e financiada com sacrifício, bagagem já despachada...., outros já querendo ligar para Brasília e avisar ao agente para cancelar “as convidadas” que iriam "alegrar" a pescaria... . O Menino temeu pelas consequências, tal o rebu. Medo de ser linchado, naquele alvoroço e indignação de todos que, àquela altura se aglomeravam em torno dele. Mas, o menino.... sério, com verdadeira fleuma britânica e notebook à mão, insinuando ter a lista dos “sabidos” pescadores cariocas que já haviam contado muitas mentiras em casa e também para as futuras acompanhantes que os aguardavam em Brasília. Algumas delas, para despistar, segundo relato do informante, até já haviam embarcado em voo mais cedo.... Imaginem o tamanho da confusão e o desespero ante a idéia de se cancelar tudo. Caras de espanto, indignação, incredulidade.... tudo que se possa imaginar numa situação dessa natureza. Mais pareciam crianças sem o picolé que o pivete tomara. E tomem gargalhadas do colega traidor e comparsa, escondido por detrás de uma coluna. O Menino, no entanto, sem poder rir e gargalhar manteve-se firme e com todo sacrifício segurou a seriedade exigida para a situação de sisudo fiscal do IBAMA, porém, morrendo de medo que exigissem a credencial inexistente ou que algum segurança federal se aproximasse diante do tumulto que se iniciava.

Suportando os protestos até onde foi possível e depois de muita tensão e revolta dos pescadores o “amigo” foi chamado. Chegou às gargalhadas e juntos, já abraçados ao líder (sem chance de reagir) desmentimos a armação... Foi um alívio geral, descontração e alegria pelo fato da “pescaria” estar a salvo. Foi como comprar outro picolé e devolver ao garoto frustrado. Celulares foram guardados e ligações para Brasília encerradas com a notícia de que a viagem prosseguiria. Em meio àquela alegria e alívio, por não terem que abortar os arranjos previamente combinados, o Menino ainda teve a coragem para dizer: "Olhem, vocês são cariocas e eu sou um mineirin... daqueles que vocês tanto gozam..., mas, agora estou pagando uma promessa que fiz a mim mesmo e hoje foi o dia..., desculpem..., eu estou me vingando da gozação que, ainda jovem, recebi dos cariocas, aqui na praia de Copacabana. Diziam eles, que o mineiro prova a água do mar para ver se é salgada mesmo....Hoje eu estou vingado, pois peguei todos vocês de uma só vez!”.

Menino corajoso...., vingou por todos os mineiros, eternos fregueses de cariocas gozadores..., troco merecido num grupo de quase 30 “sabidos” que ficaram com medo de perder a pescaria ou talvez as "companhias"  que os esperavam no meio do caminho. As sonoras gargalhadas do vingador não cessaram nem mesmo durante o vôo. Desfilava pelo corredor do avião, incomodando mais as aeromoças do que os pescadores os quais o Menino encarava e dizia impiedosamente: “E aí, carioca, levou um baita susto, hein? Só não sei se você iria lamentar mais a perda da pescaria ou quem lhe espera no aeroporto. Mas, agora, (elevando o tom de voz), quero confessar para vocês todos que os cariocas tinham razão... pois eu, de fato, provara a  água do mar de Copacabana.... e olha que era salgada para danar... kkkkk....”.  

 Desembarcamos em Brasília e o Menino atrevido, mas já sem a proteção legal do comandante da aeronave, tratou de logo achar um táxi enquanto todos aguardavam suas tralhas na esteira rolante do desembarque. Não teve, tampouco, coragem de inspecionar o ônibus que os esperavam para conferir as “companhias” dos espertos pescadores. Seria muito temeroso abusar mais e de nada iria valer a sempre salvadora, intimidadora infalível  expressão para se safar dessas situações: Respeitem o estatuto do idoso...!

 Naquele resto de noite quase não dormiu diante dos constantes ataques de risos que estavam entalados por mais de quarenta anos. A vida é assim mesmo, um dia você perde, noutro vem a vitória, ainda que se espere por muito tempo. E que vitória 30 X 1, valeu!

 
Brasília, 01/11/2009

 
Paulo das Lavras


  
          Praia onde o “Mineirin”, pela primeira vez, no                                  Pescarias modernas no Araguaia
       longínquo ano de 1966, provou da água salgada,

     



 

Valeu a visita do Papa?


Nada mais me chateia tanto quanto ver diariamente nos noticiários somente o foco economicista/financista. Os $$ antecedem a tudo. Predominam. Em tudo cobra-se o custo e especula-se o lucro vindouro. Qualquer evento social, de interesse publico, nunca é visto como algo que possa contribuir para o bem estar do cidadão, pois o poder econômico pauta os veículos de comunicação. Assim, a presença do Papa Francisco é traduzida pela mídia, quase sempre, pelo lucro que o comércio terá, os bares restaurantes, lojas, taxis, agencias de viagem e hotéis. O foco se reduz a quanto custou? Qual será o lucro? Choveu..., deu prejuízo? Lamentável essa visão tacanha, gananciosa, desprovida de qualquer senso ético e  respeito às pessoas.

Vejo a vista do Papa Francisco com outra ótica, focada no progresso social e bem estar do cidadão. Quando aqui chegou, na segunda feira 22 de julho, foi logo esbanjando simpatia, alegria e humildade. Dispensou luxos e carro blindado, passou em meio a engarrafamento e multidão quase rasgando suas vestes apenas para tocá-lo nas mãos. Seus discursos, em português, enfatizavam a sua missão: foco nos humildes, desvalidos, jovens e idosos, incentivando os jovens a irem à luta e não esmorecerem.

Mesmo para um agnóstico, educado nos cânones da igreja romana e depois diante de tantas contradições dogmáticas se viu na contingência de abandoná-la, a visita papal soa como uma esperança. Suas posições firmes tendem para o lado da teologia da libertação, do eminente teólogo Leonardo Boff. Este, por sinal, foi espezinhado pelo cardeal Ratzinger, que veio a se tornar o Papa Bento XVI. Boff teve que abandonar a batina diante de iminente condenação pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano. Esse lamentável episódio, de censura ao direito de se manifestar, aconteceu poucos meses antes de assistir sua palestra e com ele debater durante o autógrafo de uma de suas obras, no Rio de Janeiro, num encontro nacional de engenheiros.

Que os desejos do Papa se tornem realidade e que a gerontocracia teológica, acomodada nos palácios de ouro e prata, insensível às agruras de seu rebanho, pense mais neles, os jovens, os idosos e os desvalidos. Que saiam às ruas e sigam o exemplo daquele líder religioso, sobejamente demonstrado nesses quatro dias de convívio com os brasileiros. É preciso mudar e as mudanças devem começar pela cúpula da igreja conforme ele próprio deu a entender. Mas, seu recado se encaixa perfeitamente nas ações governamentais. Embora políticos gostem de declarar “tudo pelo social, tudo pelo povo”, suas práticas quase sempre se voltam apenas para seus próprios benefícios, quando não se desvirtuam pelo caminho da corrupção. Não foi à toa que os jovens ganharam as ruas em manifestação de mais de 1,5 milhão de pessoas no último 20 de junho e da qual participei. Aliás, os políticos são um caso a parte. Como acreditar em suas palavras pregando a ética e aplicação correta do dinheiro público em benefício dos pobres se, farisaicamente não abrem mão da opulência, mordomias em jatinhos da FAB para si e amigos (nunca andam de ônibus ou enfrentam engarrafamentos), nepotismos, salários e adicionais milionários que ultrapassam os 100 mil reais/mês? Difícil, até mesmo para o Papa acreditar no que ouviu e depois viu em contraste nas ruas e favelas. Não bastasse isso é só lembrar que a “política” (política???) de governo para o idoso taxou em 11%  o salário dos aposentados a titulo de cobertura de rombo da Previdência Social, enquanto os mega-sonegadores são perdoados. Coitado dos idosos que vivem a reclamar da carestia dos remédios que consomem a maior parte de seu orçamento.

 Mas, a mensagem social do papa foi clara: jovens não desanimem mesmo diante da corrupção. E esse recado papal tem duplo sentido, pois serve tanto para governantes como principalmente para o clero e a cúpula episcopal. Basta ver que, segundo recente pesquisa, aqui no Brasil, o número de seguidores da Igreja Católica Apostólica Romana tem caído bastante nos últimos anos. Por isso a necessidade de se reavivar o catolicismo e a maneira que deveria ser feito esse reavivamento, está no seu exemplo... ir às ruas, ao encontro do povo. Foi por isso que os jovens se afastaram, pois o discurso dos padres tem sido totalmente dissociado da realidade e como já disse, é dominado pela gerontocracia teológica, homens idosos que não acompanham a realidade vivida nas ruas e que preferem o conforto dourado dos palácios, à semelhança de nossos políticos farisaicos. Daqui a pouco o Brasil ficaria como a Europa onde só as crianças e os idosos frequentam a igreja.

Assim como as manifestações de rua acordaram, ainda que timidamente, os nossos políticos, é de se esperar que esse exemplo, verdadeiro show de humildade, coragem, simpatia e amor no coração do Papa Francisco contribua para a melhoria e o progresso social em nosso país. Por outro lado, no que se refere ao pensamento dominante da economia versus o social, somos descrentes quanto à boa vontade do mercado financeiro que só visa o lucro imediato. Mas, poderíamos atacar por outro lado buscando sensibilizar a mídia e, sobretudo as escolas de comunicação que, afinal, formam os profissionais da imprensa. Eles têm coparticipação solidária no que se refere à ética e responsabilidade social.

Valeu... e muito a visita do Papa Francisco. Sua estada entre nós foi e tem sido motivo de alegria por grande parte da população brasileira, notadamente pelos mais de 100 milhões de seguidores de sua igreja. Também a política e a religião certamente saberão aproveitar seus ensinamentos aqui mostrados e praticados. Não bastassem esses ensinamentos, seu carisma, simpatia, amor e afeto distribuídos fartamente já teriam sido suficientes.

Brasília, 26 de julho de 2013

Paulo das Lavras.
 
Papa Francisco desembarcando no Rio de Janeiro, em 22/07/2013      
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

A vida é um espelho - encará-la com amor faz a diferença




A maneira como você encara a vida faz toda a diferença! E é bem assim que penso hoje em dia e isso nada tem de original. Olho para o porteiro do prédio e penso que ele é importante para mim. Está ali para informar, abrir e fechar a porta para todos e cuidando de nossa segurança. Da mesma forma a faxineira que limpa meu local de trabalho, a mesa, o computador, tudo. O copeiro que leva o cafezinho e a água geladinha em um copo limpinho a cada vez. O jardineiro que enfeita e o gari que varre a quadra residencial e recolhe o lixo.  A doméstica que chega cedinho com o pão ainda quentinho prepara as frutas e o café da manhã e ainda pergunta se está de acordo com meu gosto. Se o recado de telefone está mal escrito, eivado de erros de redação, eu o leio com os olhos do coração, com pena da empregada que não teve a chance que eu tive de frequentar escola e ainda reconheço o esforço dela para transmitir a mensagem. Por isso, eu os olho com amor e respeito pelo que fazem e nunca demonstrando superioridade.


 Certa vez li um livro de um professor de sociologia da USP que, em seu projeto de pesquisa, se vestiu de gari e trabalhou com eles nas mesmas tarefas durante um ano inteiro. No livro, resultado da pesquisa, ele conta como a sociedade vê e trata as pessoas humildes que trajam o uniforme de gari. Simplesmente os ignoram. Não os enxergam, não sentem a sua presença como humanos e sim como máquinas que ali estão para executar uma tarefa, a mais baixa na escala social. Viu e sentiu na pele a discriminação de todos e de seus colegas professores. Relatou, ainda, a alegria de um gari quando recebia um “bom dia” de qualquer que fosse o transeunte. É por isso que às vezes paro o carro, cumprimento e elogio o trabalho dos garis da quadra, dos jardineiros e com estes até peço receitas de adubação e tratos culturais das plantas, só mesmo para puxar conversa, pois conheço bem as técnicas, por profissão.
 

 Isto, como afirmou o professor pesquisador da USP, muda o dia daquele trabalhador que relata aquilo a todos, colegas, amigos e familiares, como se fosse a maior honraria recebida. Mas, não é só isso, pois também fico com a certeza de que fiz um bem, reconheci o valor de um trabalhador honrado e que certamente trabalhará melhor naquele dia. Por causa daquela pesquisa da USP, criei um modo de valorizar as faxineiras do local de trabalho. Conto para os outros, na presença delas, que elas não me deixam “apanhar” em casa e tampouco ser obrigado a lavar as camisas, pois os punhos brancos nunca se sujam quando os apoio sobre a mesa de trabalho. Além de fazer piada e todos acharem graça, elas esmeram muito mais na limpeza e sempre estão bem humoradas, perguntando se não tem havido reclamações em casa quanto aos punhos das camisas. Só alegria, todos os dias, além do asseio e da água fresquinha de hora em hora, como um espelho refletindo, retribuindo desinteressadamente a sua ação de puro amor, consideração e respeito humano.

          A simplicidade na abordagem e o respeito às ideias dos outros ou apenas o ser, o ente, é um princípio mais que salutar e nos engrandece. Lembro-me do ex-Ministro da Cultura, Aluísio Pimenta, que gostava de andar pelo interior das Minas Gerais, comer broas e experimentar a cachacinha artesanal que lhe eram oferecidas. Por isso decidiu lançar um programa de cultura popular valorizando a broa, quitandas e os produtos artesanais, especialmente a cachaça de Minas (e esse programa vingou... tenho amigos na França e EUA que sempre me pedem para levar a cachacinha quando os visito). A imprensa elitista e preconceituosa o ironizou duramente, condenando seu projeto e ele, então, saiu-se com essa: “vivi, convivi e frequentei por muito tempo os salões de festas mais requintados de Paris, Roma e Nova York, mas não troco a simplicidade do mineiro com a suas broinhas, cachacinhas e cultura peculiar por aqueles requintes estrangeiros”. Ninguém mais o criticou. 

            Também sou fruto dessa terra mineira e plagiando as palavras daquele sábio Ministro da Cultura e ex-reitor da UFMG, também posso dizer o mesmo: vivi e convivi com os salões de festas mais exuberantes da república em meio às autoridades, artistas e a nata da sociedade. Frequentei e convivi, por força de ofício, com o luxo e requinte tecnológico nos EUA, França e outros países onde desempenhei missões de longa duração do Ministério da Educação, mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim... , não troco por nada mesmo, de forma alguma, a simplicidade, a sinceridade, o carinho e o amor da gente simples, mineira ou de qualquer outra região que cultive esses valores puros. Se por um lado me realizo, sinto-me feliz e orgulhoso pelos aplausos dos alunos ou das plateias lotadas de PhDs e top of minds em São Paulo, Paris ou no Departamento de Estado Norte-Americano, em Washington, onde já ministrei palestras, tenho, por outro lado, igual ou maior prazer e alegria no contato com os mais humildes. No anonimato, sozinho, no silêncio reconfortante da alma nos sentimos mais humanos, participativos, integrados no amor comum.


          Bem, mas essas são as pessoas “normais” que, como nós, estão ali trabalhando, servindo, cumprindo uma missão e de bem com a vida. Mas, tive um vizinho muito complicado, insatisfeito com a vida e toda a vez que me encontrava, logo pela manhãzinha ou a qualquer hora do dia, sua primeira palavra era uma reclamação mal humorada, nem se lembrando de dar um “bom dia”. Mas, não me deixava contaminar, não permitia que ele pautasse o meu dia com seus assuntos reclamando sobre o trabalho do síndico, do porteiro, dos faxineiros, de supostos vizinhos inconvenientes... enfim... um rosário de reclamações. Esse é o verdadeiro chato! Infelizmente esse comportamento se repetia com todos que ele encontrava pelo caminho. Respondia apenas algumas palavras evasivas e descartava a continuidade da conversa, pois não deixo que pessoas assim decidam o que e como devo agir. Por que teria que aceitar o seu mau humor e falta de consideração e respeito para com os outros que, inclusive, estavam lhe servindo no prédio? Por que se deixar contaminar por esse estado de insatisfação? Não, não podemos dar lugar a maus pensamentos e ainda mais logo na primeira hora da manhã. Essa é a hora de olharmos a bela manhã e conversar com ela, dar um bom dia ao sol, ao gramado às flores, às crianças que passam a caminho da escola, enfim alegrar-se com mais um dia que se inicia e dar graças a Deus por isso. Há uma sabedoria milenar e que até consta da bíblia: “Há poder nas suas palavras”. Por isso não se deixe contaminar pelos pessimistas. Estes ao verem a chuva reclamam... estragou meu fim de semana, minhas férias, seja lá o que for. Já os otimistas agradecem e anteveem farta colheita de alimentos, jardins bonitos e floridos, abundância de água para beber e para a geração de energia elétrica, evitando-se os apagões elétricos e cortes no abastecimento de água que ocasionam sacrifícios para todos.


              Por isso é sempre bom tratar bem os amigos não se importando com algum defeito que por ventura tenham. Eles valem mais pelo que representam para nós, alguém em quem se confia. Tenho prazer de estar com eles ou dizer um alô a longa distância ou simplesmente responder a uma mensagem por e-mail ou redes sociais.
           
          “O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença”, escreveu o poeta Luís Fernando Veríssimo. Portanto, aprendi, depois de muito tempo, que encarar a vida com amor faz a diferença! E ter amigos para compartilhar, melhor ainda! Portanto procure vive-la bem, cercado de pessoas queridas, pois ela, a vida, é mesmo como o espelho, reflete tudo aquilo que você faz...


 Brasília, 29 de maio de 2010

  Paulo das Lavras

 



Não custa nada dar um alô e tratar com respeito uma simples
catadora de lixo. Isso faz diferença em seu dia de trabalho




Cuidar com amor da formação dos netinhos, faz diferença


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Alma e comunicação


Alma e comunicação

“Coisa rara e bonita é a gente poder se comunicar por meio da alma, sem que palavra alguma necessariamente aconteça”.

Um autor desconhecido cunhou essa frase e eu a complemento:

Essa frase é mais que verdadeira, pois a alma fala mais que as cordas vocais. É por meio dela que a paixão desperta. Palavras se perdem ao vento, enquanto que a alma, mesmo no etéreo infinito, está presente no pensamento e mora no coração. Por isso ela encanta, enleva e cativa.

 

Brasília, 12 de julho de 2013

Paulo das Lavras

As três etapas da vida


 

As três etapas da vida

 

Um autor desconhecido escreveu o texto abaixo, que foi publicado nas redes

  sociais da internet e ganhou ampla divulgação:

 
“As três etapas da vida:
 

Jovens: têm todo o tempo e energia, porém não têm dinheiro.

 
Adultos: têm dinheiro e energia, mas não têm tempo.

 
Idosos: têm dinheiro e tempos, porém não têm energia.

 
                           Qual é a lição de tudo isso?
 

Desfrute a vida com tudo que tens no momento, porque nunca poderás ter

tudo ao mesmo tempo”.

 
O tema é instigante e nos leva à reflexão. É possível superar obstáculos. Nessa

ultima etapa, particularmente, uma das maneiras de se superar a suposta "falta de

energia" é conviver com os jovens. Ser professor universitário, por exemplo, é o

maior estimulante que se pode encontrar, pois para "ganha-los" é preciso se

igualar a eles, sonhar, fazer planos para o futuro e trabalhar sempre como se

parceiros fossemos nessa grande empreitada que se chama vida. Nunca dá para

se esmorecer diante do olhar, do brilho nos olhos dos jovens que têm uma vida

inteira pela frente e buscam, nos seus mestres, um pouco do saber, ou melhor, de

sabedoria para também virem a se tornar vencedores. É isto que nos torna jovens

a despeito do passar dos anos.

 
Espírito jovem? Ah, exemplos não faltam. Ainda ontem no início da noite,

depois de uma puxada reunião de trabalho com alguns dirigentes universitários e

de centros de pesquisas canadenses (falando em outro idioma, o que esgota-nos a

mente, pois é necessário 100% de atenção a cada palavra, gestos, perguntas e

respostas), seguimos para uma vernissage e ali encontramos um fino ambiente

repleto de jovens trintões. Conversa amena, regada a champaigne o que me

proporcionou verdadeiro relax, voltando rejuvenescido para casa e até perdendo

a noção do tempo....

 
Assim é a vida, vivendo cada momento e aprendendo, sempre!

Brasília, 13 de julho de 2013
Paulo das Lavras Parte superior do formulário

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Série: Inteligência e Vontade - 2 : A Felicidade


Inteligência e bem estar físico e mental – A Felicidade

 

No sábado passado postei uma mensagem (Com Vontade) cuja frase motivadora dizia: "A inteligência é o farol que ilumina o caminho, mas a vontade é que faz o caminhar"...  Hoje trago outro artigo muito interessante que mostra a inteligência como o nosso principal Condutor no caminho da felicidade. E esta passa pelo bem estar físico e mental. Leia, portanto, o artigo a seguir que compartilhei de uma amiga , vale a pena:

“Este alerta está colocado na porta de um consultório:
              A enfermidade é um conflito entre a personalidade e a alma. O resfriado escorre quando o corpo não chora. A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições. O estômago arde quando as raivas não conseguem sair. O diabetes invade quando a solidão dói. O corpo engorda quando a insatisfação aperta. A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam. O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar. A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável. As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas. O peito aperta quando o orgulho escraviza. A pressão sobe quando o medo aprisiona. As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza. A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade. Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra. O câncer mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver. E as dores caladas? Como falam em nosso corpo? A enfermidade não é má, ela avisa quando erramos a direção.

 O caminho para a felicidade não é reto, existem curvas chamadas Equívocos, existem semáforos chamados Amigos, luzes de precaução chamadas Família, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada Decisão, um potente motor chamado Amor, um bom seguro chamado Determinação, abundante combustível chamado Paciência. Mas principalmente um maravilhoso Condutor chamado Inteligência”.
            
                                                 Foto ilustrativa que acompanha o artigo citado acima e entre
                                                           aspas, postado por Aglair Rocha.


Brasília, 15 de julho de 2013

Paulo das Lavras
 

 

Inteligência e Vontade - 1: Farol que ilumina


Com Vontade
 

No final de ano de 2011 participei de um ciclo de palestras motivacionais, em Caldas Novas, juntamente com um grupo de 200 colegas de trabalho. Foram quatro dias de atividades e muita convivência. Uma frase dita em uma das apresentações me chamou a atenção "A inteligência é o farol que ilumina o caminho, mas a vontade é que faz o caminhar". É atribuida ao escritor gaucho Érico Veríssimo, mas outros dizem que é do filósofo grego Demócrito. Não importa aqui discutir o crédito da  autoria dessa frase, pois o fato é que ela encerra uma grande sabedoria. A vontade está em nós! Depende de nós mesmos o "querer fazer acontecer". Se não desejarmos realizar algo de nada adiantará a inteligência que nada terá a iluminar.

É bom que tenhamos muito "querer", muita vontade para novas e produtivas realizações. Isso em todos os sentidos, no trabalho, família, sucesso, lazer e sobretudo muito amor por tudo e todos  que nos cercam e têm influência na vida. Nesse particular considero os amigos peças fundamentais para a nossa satisfação, alegria e o bem viver.

Um abraço a todos e um bom fim de semana, com muito lazer e reflexão para recarregar as baterias da alma.

 Brasília, 13 de julho de 2013

Paulo das Lavras

 

 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um Professor invisível na Terra dos Ipês e das Escolas


            Lavras, cidade gestada em 1712 pelos sonhos de Francisco Bueno da Fonseca, um revoltoso contra os atos da Coroa portuguesa, já contava com cerca de 1000 habitantes em 1720, ano oficial de sua fundação. Passado o ciclo das lavras de ouro o município firmou-se na exploração agropecuária e partir do final do século XIX, graças à iniciativa de missionários norte-americanos, iniciou uma nova fase de progresso calcada nos alicerces da educação. Em meados do século XX, mais precisamente no ano de 1941,segundo o historiador Németh Torres, Lavras ganhou o lema de “Terra dos Ipês e das Escolas”. O autor desse lema, Jorge Duarte, exalta em poema as semelhanças entre as escolas e os ipês que passam o ano inteiro despercebidos se preparando para as magníficas floradas de coloridos deslumbrantes no mês de agosto. Verdadeira festa multicolorida admirada, fotografada e cantada por todos da cidade.  Também as escolas, segundo aquele autor, à semelhança dos ipês, passam o ano inteiro preparando seus alunos, silenciosa e anonimamente, sem despertar a atenção para sua grande obra. No final do ano, então, começam as festas de formatura e a cidade se engalana para celebrar as vitórias e só então aparece o resultado de um labor fecundo. “Os ipês florescem em agosto. As escolas florescem em novembro”, escreveu Jorge Duarte em seu poema de louvor aos mestres e à cidade.

            Com esse preâmbulo sobre o ambiente escolar de Lavras iniciamos uma história que se insere no contexto educacional da cidade onde passamos a juventude às voltas com os livros e, naturalmente, cercados de belas garotas. Naquele início dos anos 60 do século passado a cidade já contava com 40.000 habitantes, atingindo a surpreendente marca de 20.000 estudantes, a metade da população, como a justificar seu lema cunhado 20 anos antes. Nesse contexto estudantil ficou viva na memória da rapaziada uma famosa Kombi azul metálico perolizada. Mas as reminiscências nem se referem tanto à novidade daquele bonito furgão importado, admirado na cidade e no país, pois era um vistoso e inédito modelo alemão, ano 1959, para nove passageiros e com muitas janelas. Além dessa novidade o interesse maior recaia sobre as seis moças que, diariamente, eram levadas e buscadas nos colégios da cidade naquele veículo.  Não era uma Kombi-Escolar nos moldes de hoje. Pertencia a um tradicional fazendeiro que era o próprio motorista a transportar seus sete filhos, seis moças e um menino bem mais novo. Chegava, diariamente, um pouco antes das sete horas da manhã nos colégios Gammon, Lourdes e Kemper. Neste se concentrava a maior parte das filhas estudantes. À tarde, por volta das 16 horas as recolhia na casa dos avós, situada na rua direita, quase em frente ao Grupo Escolar Firmino Costa. Essa rotina durou de 1956 a 1966 quando adquiriu, na cidade, uma casa para as moças e assim as viagens ficaram reduzidas apenas aos fins de semana. Antes desse período as meninas mais velhas foram internas do Colégio de Lourdes, no período de 1950 a 53. Chegaram a residir com os avós por algum tempo até que o transporte diário começou com uma Vanguard, de 1956 a 59 quando então foi substituída pela confortável e espaçosa Kombi alemã.

            Com casa na cidade para os filhos e redução das viagens o pai daquela numerosa família em idade escolar pôde trabalhar mais tranquilamente na sua bela e bem equipada fazenda na zona rural do Queixada. A propriedade dista uns 10 km da cidade pela antiga e acidentada estrada intermunicipal Lavras-Nepomuceno. A região se destaca pelo espinhaço de serras com magníficas formações rochosas afloradas e esculpidas pelo vento. A fazenda é banhada pelo ribeirão Água Limpa com várias cachoeiras, casa sede imponente, moinho d´água para produção de fubá, energia elétrica própria gerada por pequena usina hidrelétrica, instalações industriais para moagem de mandioca e fabricação de polvilho e... naturalmente a tradicional exploração de gado de leite. Não conheci antes a fazenda, embora o imaginário do menino por ali passeasse sempre que avistava a famosa Kombi. Mas, alguns familiares relataram que lá iam adquirir o especial polvilho de mandioca e sempre era motivo de calorosa recepção por todos, especialmente os pais das moças. Uma delas relatou, recentemente, que a fabricação do polvilho era uma diversão para a família, pois havia a “guerra de polvilho nos cabelos” e para se protegerem do pó branco amarravam panos na cabeça.

            Mas, uma Kombi assim, repleta de belas moças passeando pela cidade e pelas portas dos colégios não poderia passar despercebida pelos rapazes. Ficou famosa, mas, havia um porém... o motorista era o próprio pai, de cenho cerrado com espessas sobrancelhas e olhar nada convidativo para cima dos “inocentes e despretensiosos” rapazes... Isto lhes causava certo receio que, aliás, era o costume naqueles idos tempos de doce juventude em que os pais eram considerados “as feras” que afugentavam os “gaviões”. Contentavam-se em vê-las caminhando pelas ruas em direção à casa dos avós, ponto de concentração para a viagem de retorno à fazenda, ou então na varanda daquela casa. Isso tudo longe das vistas do Sr. Zé das moças da Kombi, apelido carinhoso que os rapazes logo lhe arranjaram, ainda que à revelia. Assim, outra diversão preferida era pegar o bonde e de pé, no estribo, olhar para aquela varanda bem ali, defronte aos trilhos. E o melhor era que o “trocador” do bonde, o saudoso Tarzan, jovem de físico sarado, paquerava uma daquelas lindas moças e sabedor que os rapazes estavam naquele veiculo com o mesmo interesse, cooperava e nem cobrava a passagem. Alegria geral, sorrisos para todos os lados e só faltava ele mandar o motorneiro reverter o percurso, ali na esquina do Firmino Costa e passar 500 vezes mais em frente à casa, logo acima, o alvo preferido daquela rapaziada. Pedidos para isso não faltavam e até o sisudo motorneiro, Cirilo, achava graça e com gostosa cumplicidade tocava a sineta de alerta do bonde, como que avisando às meninas que o comboio dos rapazes estava passando...

            Infelizmente o amigo Tarzan não está mais entre nós e não pudemos descobrir se suas incursões renderam bons frutos. Talvez a sua musa preferida nem soubesse da admiração que ele nutria, tanto quanto as demais em relação aos outros rapazes. Muitos sessentões se lembrarão daquelas moças, educadas, sorridentes e bonitas. Uma delas foi eleita Rainha da Exposição Agropecuária. Desfilou pelas ruas da cidade, sobre uma carreta de um trator, como era de costume. Todos a aplaudiam e admiravam sua beleza até o momento em que o desastrado tratorista que a conduzia, numa arrancada brusca, a atirou ao chão na movimentada esquina Záckia/Mazza Hotel. Todos acorreram em socorro da bela rainha, mas felizmente nada de grave acontecera. Aboletou-se novamente na carreta ornamentada e o condutor, consternado pela sua barbeiragem, prosseguiu o desfile até o recinto da Exposição a dois quarteirões dali. Ainda recentemente aquele tratorista guardava na memória a imagem de reprovação de todos que presenciaram o acidente por ele causado.  Somente agora, passados quase 50 anos, ele encontrou nas redes sociais a rainha em questão e ela confirmou que aquilo não tivera tanta importância e deu boas gargalhadas. O Menino das Lavras, que era o então “barbeiro” que a conduzia no trator da Esal/Ufla, respirou aliviado e também caiu na gargalhada, não sem antes imaginar que aquela barbeiragem talvez tivesse sido produto de nervosismo decorrente da honra de conduzir a rainha aplaudida pelos súditos que apinhavam as ruas.

Em recente e saudosa visita que o menino fez à cidade natal, descobriu que o medo da rapaziada em se aproximar da Kombi era tanto que somente dois destemidos policiais tiveram coragem de chegar e enfrentar o seríssimo pai das moças. Deve ser lenda, pois o autor do relato, um tanto fantasioso não parecia levar a sério as próprias palavras. Dizia que um daqueles policiais, em missão de patrulha nas rodovias federais, interceptou a famosa Kombi, sequestrou-a e levou uma das moças e, melhor ainda, vive com as duas até hoje, a moça e a Kombi. Lógico que, mesmo depois de tanto tempo, o menino não acreditou nessa história. Mas, o certo é que ele foi levado ao patrulheiro rodoviário federal, velho amigo de infância, e surpreendentemente lá estavam os três numa linda casa em um bairro da cidade. Os três? Sim, os três, o patrulheiro federal, a moça e pasmem..., a velha Kombi alemã, ambas “sequestradas” pelo corajoso policial a uns 50 anos atrás. Surpresas das melhores e ao repetir a fantasiosa história aos supostos protagonistas, caímos na gargalhada e nos pusemos a relembrar os velhos e doces tempos da infância e juventude com direito a fotografias da família, da famosa Kombi ainda em uso e bem conservada, terminando com uma vista à fazenda, porto de partida e retorno daquela histórica Kombi.

À parte as reminiscências dos arroubos juvenis e das bonitas garotas que transitavam naquele veículo e ainda as histórias fantasiosas de sequestros, prevalecem hoje as lembranças da saga daquele admirável senhor, austero, cônscio de suas responsabilidades em educar e encaminhar os filhos, levando-os diariamente à escola. Admirável esforço, trabalho anônimo e tal qual no poema de Jorge Duarte, ele cumpriu com determinação, silenciosa e anonimamente sua tarefa na construção de um futuro coerente com seus valores e costumes da terra das escolas. Verdadeiro professor que, mesmo na simplicidade da vida rural, soube honrosamente compreender o valor da educação e conseguiu diplomar todos os filhos. Muitos deles se tornaram professores, educadores, constituíram novas famílias com prole espalhada por várias partes de nosso país. Um exemplo de cidadania e honradez. Foi um verdadeiro professor, invisível a seu tempo, mas que hoje assim o reconhecemos. Assim foi o Sr. José Azarias de Carvalho, este é seu nome. E assim como os ipês e as escolas florescem em agosto e novembro respectivamente, a obra desse professor invisível floresceu a vida inteira e produziu bons frutos.

Ao terminar a visita de resgate desse saudoso passado de 50 anos, o menino contemplou a Kombi pela última vez. Surpreendentemente em vez de “ver” ali aquelas belas moças, vislumbrou apenas o condutor. Seu olhar se concentrou na porta e cabine do motorista e, partir daquele instante desfilaram apenas as lembranças daquele verdadeiro professor invisível, mas bem presente em seu imaginário, ali e agora, sentado naquela cabine, cumprindo sua missão. O vislumbrei ali, ao volante, com o mesmo semblante sério e num gesto de saudosa despedida fotografei a sua “sala de aula”, aquela cabine com o volante e espartano painel de instrumentos que por tanto tempo manejara em nobre missão.

Nossas homenagens a quem soube, mesmo à custa de extremo sacrifício, honrar a tradição de 300 anos de nossa cidade, reconhecida no país e no exterior como terra dos ipês, das escolas e da cultura. Escolas e cultura que florescem há 130 anos, quando aqui chegou, em 27 de dezembro de 1893, o missionário norte-americano Samuel Rhea Gammon e que ao desembarcar escreveu: “... meu coração está cada vez mais cheio de interesse por esta terra e por esta obra (o colégio evangélico)”. Seu trabalho, visitando e convencendo as famílias a matricularem seus filhos na escola, floresceu e ganhou tradição. Assim é Lavras e sua gente, a terra dos ipês e das escolas. O Sr. José Azarias Carvalho foi um exemplo, cumpriu essa tradição com muita responsabilidade e amor. Um orgulho para todos nós. Parabéns à família.  

Brasília, 04 de julho de 2013

Paulo das Lavras
A Terra dos Ipês e das Escolas com seu deslumbrante ipê amarelo e...


 A imponente Escola Carlota Kemper , em estilo virginiano (EUA), fundada em Lavras em 1893. Mais de um século de tradição na formação de jovens


 O bonde levando o menino das Lavras e seu amigo Tarzan, fotografado em frente à casa dos avós das meninas
A imponente casa sede da Fazenda Queixada, residência da família Carvalho

A famosa Kombi alemã, importada em 1959, em foto atual sem a pintura original


As passageiras do "Sr. Zé das Moças da Kombi" em foto de 1970, na fazenda

O Menino das Lavras ladeado pelo "destemido" patrulheiro, Thadeu, que "sequestrou" a Kombi e a garota Geisa, para sempre.

O saudoso homenageado,  Sr José Azarias Carvalho ao lado da esposa Clara Pereira da Silva. Olhar firme, cenho marcante, autoridade logo reconhecida e respeitada pelos rapazes

A "sala de aula" que o Sr. José Azarias,verdadeiro professor invisível,  utilizou para dar "Educação" aos filhos. Tarefa diária, sem trégua, por longos anos

O bonde ficava lotado como nessa foto e todos querendo ver as "minas"
Foto: arquivos de Renato Libeck